Bebendo chá com o Coelho Maluco

Edson Gonçalves Ferreira

Quando me lembro que estou pagando IPTU, IPVA, Seguro Obrigatório de Carro, que o Imposto de Renda está chegando, que o salário de aposentado não acompanha o salário-mínimo, acordo para

a realidade que moro no país da Alice e sou colega do Coelho Maluco e,

então, começo a beber chá com ele. Prefiro o de erva, cidreira, gente, para me acalmar enquanto o homem lá em cima fica isento, ignorando tudo o que acontece.

Elis Regina tinha razão: "Tá cada vez mais down no hight society..." Enquanto vivermos neste mundo, teremos trabalhos e tentações. O homem nasce, cresce, aprende a andar rastejando e, depois, se viver muito, corre o risco de voltar a engatinhar de novo. Assim, não entendo a vaidade exacerbada de algumas pessoas. Como é difícil ser santo em vida. Depois do trânsito, todo mundo parece que vira santo. É mais fácil amar os mortos que os vivos. Os vivos cometem muitos erros!...

Terça-feira, de manhã, preparando para ir para o trabalho. Resolvo escrever esta crônica. Celebridade tem é gente humana como a Sônia Ortega, a Fernanda Araújo, a Zélia Nicolodi, o Henricabílio, a Celina Figueiredo, a Claraluna e você que, agora, lê essa crônica improvisada. Sim, porque celebridade humana é tão passageira. O homem mais célebre do mundo nasceu foi numa manjedoura. Era filho de um carpinteiro e sua mãe tinha um nome comum: Maria.

Assim, acho engraçado os nomes complicados de pessoas. Os títulos que ostentam. Tem gente que acha que professor bom são só os da Capital. Uai, se fosse assim, JK não seria tão célebre. Não consta que Machado de Assis tivesse título de doutor, nem Castro Alves, nem Rachel de Queirós, nem Jorge Amado. O maior título de que um intelectual precisa é humanidade. Não adianta muita escola, sem não tiver berço e, quanto mais humilde for o berço, talvez, mais dignidade terá a pessoa.

Tomando chá com o Coelho Maluco numa xícara quebrada, ouço ele dizer que está com pressa. Respondo que estou com mais pressa que ele. Tenho que assinar o ponto agorinha mesmo na repartição pública. Mas não sou com os parlamentares que têm carros luxuosos, cartões corporativos e mordomias infinitas. No fim do mês, quando olho meu contra-cheque, tenho vontade de chorar. Estudei tanto para quê... Quem vigia carro ganha mais do que um professor, pode. E, depois, você ainda quer discutir comigo que o livro "Alice no país das maravilhas" nada tem a ver com o Brasil!... Está bom, vou fingir que concordo, mas vou chamar a Rainha de Copas para dar um jeito neste país. Maria Antonieta teria inveja das mordomias de Brasília, não teria?

Divinópolis, 19.02.08

edson gonçalves ferreira
Enviado por edson gonçalves ferreira em 19/02/2008
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