Zé Galinha e Zé Roela©

Por: Elizabeth Misciasci

“Zé Roela e Zé galinha, eram dois amigos inseparáveis em uma pequena cidade, o que não demorou muito para despertar a atenção da pacata região que logo os batizou de dupla feliz”.

Encantadoras figuras que não conseguiam transitar despercebidamente, pois mais pareciam levitar e saltitar ao cruzarem com pessoas que já identificavam como bons companheiros, fato este que só viria a corroborar os espetaculares numerários de apelidos que gentilmente lhes eram atribuídos.

Logo ao chegarem à cidade, "soltaram o verbo" e abriram as asas, pois agora mais do que nunca poderiam se deliciar ao sabor da plena liberdade, nada mais existiria que não fossem adequados aos padrões destas novas vidas que chegavam de uma grande metrópole a fim de sanar frustrações que lhes removeram muitos anos de suas tão agitadas vidas.

Galinha e Roela eram amigos, daqueles que chegam a ser irmãos, não tinham um "caso" nem aparentavam ambos, serem do mesmo "babado" como alguns já suspeitavam e até insinuavam...

-Natural meu ‘chapa’, tu sabe que cidade muito pequena centra os ‘olho’ em coisa nova é só não ‘esquenta a cachola’ que neguinho esquece. -Comentavam os personagens da língua felina alheia...

Roela foi trabalhar na barbearia do Sr. Astrogildo e aos poucos ia ganhando a amizade e confiança dos homens da região.

Não demorou muito e Galinha também se acertava, já havia conseguido emprego de "barman" na única casa de luz vermelha da cidade, estabelecendo aí grandes amizades com as "prestadoras de serviços" aos chamados incompreendidos do lar o que se estenderia e lhe renderia também fortes laços com as "secretárias das calçadas."

Agora ninguém ousaria pronunciar algo que colocasse em dúvidas a moral da dupla que tento a unida classe masculina falando em prol e defesa, tornar-se-iam cúmplices de uma grande e sincera amizade.

Os dias passavam dentro da normalidade, sem um novo tema não há assunto, sem assunto não há comentários, e assim nada mais repercutiria em nome de Roela e Galinha.

A tarde já se preparava para receber o anoitecer, quando uma mulher desce de um ônibus na pracinha principal da cidade e desembarca duas malas, sinal de novidades... Estaria de passagem? - Seria parente de algum conhecido? -Chegava pra ficar? -Quem era aquela mulher estranha?

Perguntas das mais diversas atravessariam paredes, ecoariam em quintais, percorreriam os pontos comerciais e seguiriam nos portões das casas como assunto do momento.

Nunca se perdeu tantas panelas de arroz e feijão, pois o tempo era totalmente dedicado as curiosidades o que não dava espaços para quem tanto necessitava obter informações, conciliar panela no fogo e bate papo na rua.

Todos aflitos e afoitos para discutirem a novidade e quem sabe em conversas coletivas acrescentarem mais uma pequenina informação...

-Sabe como é ‘né’? Uma coisinha aqui outra ali e a gente une tudo e se inteira melhor - Afirmava Dona Lucrecia, mulher do Sr. Ambrósio açougueiro.

A primeira saída de Romilda da pensão familiar que estava hospedada foi ao salão de beleza, necessitava urgente de uma bela escova nos cabelos duros e ressecados pela longa viagem de ônibus que conforme suas palavras lhe haviam tomado três dias e duas noites.

Mulher austera, não quis muita conversa.

Falou pouco e deixou vago o porquê foi e pra que foi.

Este comportamento, só viria a despertar curiosidades ainda maiores...

Sem vestígios, a manhã não brilhou e a pacata cidade acordava "conhecida" e com um saldo negativo incalculável.

Galinha havia transformado a casa de Luz Vermelha em ponto de drogas que chegavam aos lares com a maior facilidade, pois em pouquíssimo tempo havia transformado as mulheres que lá atuavam em "avião" (ponte que liga traficante e viciado).

Romilda, conhecida como ‘Romildão’ que também era foragida assim como a ‘Dupla Feliz’, assassinou o amásio Roela (razão da alcunha) ao flagrar o mesmo em posições não reveladas com um milionário político da Cidade e ‘abriu fuga’ com seu amante Zé Galinha, levando todas as economias de Terê, dona da pensão que lhe hospedara.

Revelações estas descobertas pela Polícia que vinha no ‘encalço da quadrilha’, mas que a pacata cidade por se atentar tanto a vida alheia, não teve a "curiosidade" de enxergar, nem mesmo ouvir ou ler as diárias manchetes de Procura-se nos jornais e telejornais do País.