LUA

Essa crônica eu fiz, ao volante de meu fusquinha 84, com um trânsito surpreendentemente lento para as 11 horas da noite de uma segunda-feira de retorno às aulas. Conto, porém, que foi ali, no semáforo da Colombo com a São Paulo que a vi. Um pouco torta e colossal, a lua me acenava, amarela, reluzente e em proporções nunca antes por esse cronista vista.

Lindo pingente de ouro, escolhido pela noite, essa lua; pensei. O semáforo vermelho se fez verde, engatei a primeira marcha e saí. Naquele momento, minha atenção se dividia entre o trânsito e a Lua, às vezes ela se escondia atrás dos galhos de árvore, às vezes era oculta pelos prédios e sobrados, mas para meu prestígio, sempre reaparecia. E sempre me surpreendia.

Percebi assim, que há tempos não dava à Lua a atenção devida. Reparei o quão se parece com as mulheres, bela, misteriosa, frágil e ao mesmo tempo imponente. O sol também é belo, no entanto não permite o seu vislumbro, diferentemente da Lua que se insinua e tenta os tolos, atrás de uma cortina de estrelas e de um véu negro.

Quando criança, sonhava ser astronauta, embarcar numa nave, ouvir a contagem regressiva e partir pra onde não há gravidade. Meu sonho foi frustrado é verdade, mas não me impediu de ser assíduo habitante, do mundo da Lua.

Gostaria muito, que, meu amor se fizesse presença, me vigiando do banco de passageiros, e que no rádio tocasse ao som dos Paralamas do Sucesso “Tendo a Lua”, trilha sonora ideal para aquele momento. MAS NÃO! O banco ao lado continuava vazio e o que tocava no rádio era um clássico de Odair José. Tudo bem vai... Nada é perfeito mesmo.

Enfim... Voltando à Lua (ou melhor, a falar sobre a Lua, já que ela está muito distante para uma visitinha), o que mais intrigava era que apesar do tamanho que tinha ela não era Cheia, seria Crescente? Minguante? Vai saber... Cheia ela não era.

Cheguei em casa ainda com essa dúvida, mas antes de guardar o carro, fiquei um minuto mais bisbilhotando aquela grande fatia de queijo no céu negro, com gosto de mel para os apaixonados, excitante para as águas do mar e virtiginosa para os loucos e lobos. Senti inveja da Lua.

Inveja de ela poder ver tudo que se passa aqui em baixo, lá do alto. Inveja de ela ser ausente para as retinas durante o dia mas estar a par de tudo que acontece. Inveja de seu poder, capaz de cegar o sol, em uma tarde de eclipse. Inveja de ela estar perto de Deus e das outras estrelas, uma dessas a mim presenteada pelo meu amor.

Senti inveja, e invejoso que me encontrava, entrei em casa. Procurei o CD do Paralamas e olhei no calendário, nem Crescente, nem Minguante, a noite era de Lua Nova, e já daquele tamanho... Apertei o play:

“Tendo a lua aquela gravidade aonde o homem flutua

Merecia a visita não de militares,

mas de bailarinos

e de você e eu.”

Só faltou o meu amor.