Desacelerando o mundo

Assim como houve uma criança triste a contemplar o mundo, hoje há um adulto que igualmente o contempla. Triste? Não necessariamente. O que descobriu é não deixar-se consumir pela velocidade artificial do mundo, não fazer tanto parte dele assim, ou ainda, dar-se o direito à não fazer nada em determinados momentos do dia.

Não fazer nada? Exagero de um mundo que vê produção como o único termo de julgamento do que venha ser a vida. Faz muito aquele que observa, pensa, extrai pensamentos como um bom lapidador extrai o brilho do diamante em bruto.

Pergunta-se, via de regra, o porquê das pessoas estrem insanas. Quer saber? Tudo é muito simples: o fato principal é que elas se deixam consumir pela velocidade, pelos desejos irrealizáveis, pela completa visão que uma escada é galgada degrau a degrau, que não pode-se chegar à nada aos saltos, que não é apenas a comida que mata mas o sedentarismo, que tudo não precisa ser feito em um momento só mas cultivado.

Quando não critica-se o sistema, dá-se abertura para um sem número de teorias que acabam dizendo o óbvio com roupagens diferentes, só para fazer um produto mais atraente que, em sendo novo, é "um museu de grandes novidades" como dizia o Cazuza.

Antes eu dizia que gostaria que o mundo parasse para eu descer mas hoje digo apenas que quero desacelerar o mundo sempre que possível e permanecer na janela vendo a paisagem nem que seja por alguns instantes.

André Vieira
Enviado por André Vieira em 19/02/2008
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