Inutilidade

O que há em mim que sufoca?

Esse tal conhecimento. Esses livros que não li. Essas informações que não entendo.

Minha burrice me incomoda. Minha ignorância me incomoda.

Nunca será suficiente. Nunca irá terminar.

A vida é um processo de conhecimento; o tempo é pressão e cobrança.

Eu perco meu tempo com nada.

Olho meus livro e não tenho vontade nenhuma.

Não por que são ruins, é por que não tenho ânimo.

As coisas tem mais sentido quando leio, mas logo se perde quando esqueço.

Olho o mundo e da minha cabeça nada retiro. Nada se processa nos meus neurônios da “intelectualidade”.

Eu só penso no nada. Eu vivo no nada.

Por que me preocupar então?

Comparação!

Competição!

Vaidade!

... mais nada.

Só para efeito de conversa.

Será que entenderei aquilo que está me sendo dito?

Será que serei inferiorizado por aquilo que não sei ou não acredito?

Ah, mas que saco de vida.

Que coisa chata é essa coisa de conhecimento.

Perda de tempo dos dois lados.

Eu apodreço; e nada vivo e nada conheço.

Na minha cara está estampada a rudeza da culpa e a grosseria do rancor.

Culpa de não saber e rancor de não poder.

O que restará disso tudo?

O que devo fazer?

Cai no nada e agora tenho duas vias: aceitarei esse meu nada como a morte de minha existência ou destruirei aquilo que não entendi ou não entenderei?

Escrever é a arte de destruir e construir.

Todo escritor é um corajoso e um medroso.

Tem medo do mundo e coragem para enfrentá-lo.

Todo escritor é um ressentido.

Todo escritor deve se matar para nascer de novo.

Deve matar esse mundo e fazer brilhar um mundo novo.

Mas o mundo é real e o novo é irreal.

Todo escritor deve escolher entre viver no real ou no irreal.

Duas escolhas:

Duas portas a seguir:

Ir para o mundo e o aceitar tal como ele é, ou ir para ilusão e negar o mundo tal como ele é.

A primeira concede o prazer de viver, o segundo o desprazer de viver.

O primeiro é aceitar, o segundo é rejeitar.

O primeiro é ser aceito, o segundo é ser rejeitado.

O mundo clama!

Mas e a alma? Não descansa!

Na alma de cada indivíduo há a impotência: de nada mudar e de nada valer.

Olhe-se no espelho. Respire. Olhe no fundo de seus olhos. E então veja...

Veja que nesse mundo, você não vale a pena.

Plínio Platus
Enviado por Plínio Platus em 19/02/2008
Código do texto: T866444