Carne e alma

Os meus dias tem se passado assim, em seco, em lágrimas que não molham papéis, nem contam desgraças. E o que fazer quando o silêncio cala o grito, escondido entre tanta dor e mágoa? Quando os pés saem do chão e os rumos se confudem nas mesmas estradas? Como controlar uma tarde vã, um sol sem brilho e estrelas que desaparecem em meio das nuvens?

Só sei que sentir assim dói e não me causaria espanto se meus sonhos fossem levados com o vento. Uma noite sem esperanças, uma ferida que sangra e não cicatriza, marcas que não amenizam e não se escondem mais. E o que tenho dentro de mim é tanta coisa que não cabe no mundo, nem em folhas de papel. E o que escrevo é sem sentido, é um lapso de memória, é um misto de consciência e inconsequência. Tenho angústia de mim mesma e tanta pressa que hoje nem espero mais.

Já nem sei quem sou, quem fui e acho que não serei mais nada além. Eu mudei e meus sonhos não são mais os mesmos de outrora. Me tornei esse ser meio apático, coberto por fumaça e desespero, medo e vontade de pecar. A perfeição já não me satisfaz como antigamente. E é tão humano ser de carne e osso.

Quero ser errante, quero estar errada, quero enxergar o mundo como ele é realmente e como eu nunca pensei ver. Quero estar certa em meu erro mais covarde, quero ter a coragem de fazer o que sempre tive receio. A indecisão já não é mais parte de mim.

Ao mundo, hoje me mostrei como sou. À humanidade, amanhã me revelarei como sã. Ser humano é castigo, ser espírito é ser verdade. E sou mais carne do que osso. E mais alma do que carne.

pann
Enviado por pann em 21/02/2008
Reeditado em 21/02/2008
Código do texto: T869290