POR UM BIS…

 

 

Semana passada ouvi no rádio aquela história que muitos devem conhecer da mulher que ia viajar, mas antes resolve comprar uma revista e um pacote de biscoito. Senta-se para esperar seu vôo, quando um homem senta ao seu lado e, “descaradamente” começa a comer o biscoito junto com ela. Indignada ela não diz nada; apenas espera ver até aonde ia tamanha cara de madeira do homem. Para sua surpresa, o homem demonstrou-se mais petulante possível. Tanto que quando chega ao último biscoito, ele reparte e deixa a metade para ela.

Chega o momento do embarque, ela vai para o avião e quando senta e vai procurar algo na bolsa, encontra seu pacote de biscoito intacto. Há uma moral, mas vamos deixar para o final.

Aconteceu comigo semelhante história. Era ano de 1995, tinha dezenove anos, fazia cursinho no Objetivo da Avenida Paulista.  Estudava à tarde. Havia uma moça chamada Juliana, bonita e arrogante. Sabe como é, às vezes a cultura torna a pessoa mais arrogante em vez do contrário. Por quê? Bom se eu tenho facilidade para compreender certas coisas mais rápido como conviver com pessoas mais “atrasadas”? Estava lá lendo seu livro espírita “Paulo e Estevão”. Sempre trazia um lanche para degustar. Guardava na bolsa. Um dia trouxe uma caixinha de bis. Estava lá comendo entre uma matéria e outra, quando me viu comendo também. Uns amigos haviam comprado também e me deram uns três ou quatro, não me lembro bem.

De repente aquela moça mudou. Cara fechada, toda mal-educada. Eu já não ia muito com a cara dela, mas sempre procurei ser diplomático. Perguntei “o que aconteceu?” e ela

“você deve saber! Porque está perguntando pra mim?”

E eu na minha maior inocência:

“O que foi?”

“Não se faça de besta! Odeio pessoas cínicas!”

Então caiu-me a ficha: O bis.

Sabe, é como dizem, alguns pedir perdão quando se sabe inocente é querer humilhar a outra pessoa. Como estávamos em  aula escrevi um bilhete para ela:

“Juliana, sei porque você está assim. É por causa do bis, não é? Você pensa que eu tive a coragem de invadir sua privacidade e mexer em sua bolsa para eu pegar um bis... Faça-me o favor. Esses bis quem me deu foi o Sérgio. Assim que acabar essa aula vou chamá-lo e perguntar na sua frente se ele comprou ou não o bis. É assim mesmo, temos que ter cuidado com os julgamentos à primeira vista. Se pareceu que cometi um furto, peço-lhe perdão.”

Quando ela terminou de lê-lo nem conseguia me encarar.

“Ah desculpa, eu...”

“Tudo bem, eu respondi. Nós temos essa mania mesmo, somos seres humanos...” 

Agora vem a moral da história do pacote de biscoito. Quando a mulher viu o que tinha feito, não havia mais jeito de consertar...

O locutor termina assim a história:

“Há três coisas que não voltam nunca:

‘A flecha lançada,

‘A palavra dita,

‘A oportunidade perdida... ’” e aqui acrescentaria a quarta:

‘O Tempo passado’

E isso é uma verdade. Depois daquele dia nunca mais fomos os mesmos. Por mais que tentássemos. Ela se lembraria sempre. Eu fiquei na minha. Ainda cheguei a enviar um cartão de Natal. Depois liguei para saber da faculdade, e parou por aí...

É como sempre digo a vida nos ensina sempre...

Lembro-me da passagem de Mateus no Novo Testamento onde Jesus diz: “Não julgueis para que não sejais julgados”

Não é que a Bíblia tem razão?

 

22/02/08

Gonçalves Reis
Enviado por Gonçalves Reis em 22/02/2008
Reeditado em 22/02/2008
Código do texto: T870161
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