Mulher linha dura

Aconteceu de, voltando pra casa depois do jogo de tranca no salão do Titico, o Leo encontrar a porta trancada à chave.

TOC! TOC! TOC!

Nada.

TOC! TOC! TOC!TOC!

Nada de novo ainda.

- Amor! - chamou num tom abaixo do normal. - Abre a porta, que estou cansado.

Na verdade estava alto.

Ela abriu uma fresta pequena.

- Isso são horas de chegar em casa? - Trovejou sem razão alguma. Apenas oito e meia da noite. - Porque não volta para seus amigos – continuou, a raiva espumando as palavras – ou suas biscates, se é que estava mesmo jogando baralho!

O Leo suspirou fundo.

- Para com isso, mulher! Tô cansado, tô de porre, tô de saco cheio e quero entrar, tomar um banho e jantar!

- Vai jantar na putaquipariu! - A mulher xingou e caiu no chororô. - Todas as minhas amigas nessa hora estão passeando com seus maridos e eu aqui, igual uma idiota esperando voce chegar do jogo. Pensa que sou sua escrava?

Havia um pouco de razão no fundamento. Se bem que o Leo também tinha suas razões. Semana inteira ralando duro, pagando contas, ajudando cuidar do casal de filhos adolescentes e só final de semana, sábado ou no domingo, o joguinho com os amigos. Um bom sujeito.

Bem, para ser honesto, tinha seus defeitos sim! Que homem não tem? Volta e meia escapava e saia bizoiando as gostosonas na praça, contando vantagens no BarBarbas e uma ou outra biscatiadinha. Mas a Etelvania( Tel para ele ) nunca descobrira nadica de nada. E quando não se sabe. . .

Resumindo: depois de vinte minutos de “abre a porta, não abro não, deixa eu entrar, volta pra seus amigos” o Leo ligou o carro e rumou para o Saramandaia, onde encontrou uns amigos boêmios, a maioria solteirões, e embarcou na cervejada.

Não era a primeira vez que isso acontecia!

Coisa de dois, três anos atrás, suspeitando que o Leo tinha dado o nó no serviço e caido na gandaia, ela trancou a porta e foi passear com os filhos na casa duma irmã num bairro do outro lado da cidade.

Acontece que o coitado tinha ido trabalhar mesmo e quando chegou as seis da tarde em casa chamou, chamou, chamou e ninguém atendeu. Sujo de graxa, cansado até na alma, fedido de suor como um gambá no cio, o que fêz?

A porta da cozinha abria pra fora.

Consequentemente as dobradiças ficavam expostas. Com cuidado retirou os pinos, deslocou a porta do lugar, entrou, tomou banho, fez a barba, esquentou o jantar no micro, jantou, trocou de roupa , recolocou a porta e foi dar um rolê pelaí.

Bebeu, paquerou, contou mentiras, ouviu lorotas e quando voltou pra casa meia-noite, meia-noite e meia, falou que a Tel perguntou alguma coisa, né? Bem que dias depois ela tentou descobrir como tinha feito a proeza, mas o Leo entregou de bandeja? Nãnãnim nãnãnã!

Voltando ao hoje, onze da noite voltou. E nova e ridícula cena. Pedidos e argumentos exatamente iguais

Cansado de discutir e vendo que a mulher não ia mesmo abrir a maledeta porta retornou ao bar, onde continuou a pendenga anterior. Sendo um sábado quando o Saramandaia fechou às duas da manhã, catapimba para o SuruBar, reduto de putinhas e afins.

Lá bebeu muito mais,dançou agarradinho ouvindo Bruno e Marrone pagou cerveja para a putaiada, deu beijos de boca no mulheril , jogou bilhar de parceirada e só não partiu para o crime total porque estava sem condições físicas, psicológicas e financeiras.

Coitado, foi recolhido pelo vizinho e dormiu no sofá da sala. As crianças vez em quando espiando e rindo do ronco alto. O da casa ao lado ficou com dó depois da cena patética: testa encostada na porta, olhos fechados por efeito da bebedeira, resmungando em beudez:

- Abre essa porta, Tel! Deixa eu entrar, amor! E pelamordeDeus, não me manda voltar para os amigos não! Que não tem mais nenhuma porra de boteco aberto essas horas nessa merda de cidade!

Nickinho
Enviado por Nickinho em 22/02/2008
Reeditado em 22/02/2008
Código do texto: T870636