OS MAUS COSTUMES DO RIO

CACHORRADA

Nestor Tambourindeguy Tangerini

O Rio está cheio de péssimos costumes.

Ia, a semana passada, um bonde pela Avenida Getúlio Vargas, na altura de Uruguaiana, quando, de repente, estoura um “sururu” provocado pelo condutor, que, ao cobrar a passagem a um senhor distinto, chamou-o como o fizesse a um cão ou outro animal – por assobio!

O cavalheiro estava acompanhado da esposa e duas filhas, e, diante de tamanha falta de respeito, reclamou, sendo logo replicado com deboches e injúrias.

Antigamente, quando não havia a lei dos dois terços, o condutores da Light, quase todos lusitanos, faziam a cobrança nos seguintes termos:

- A passagem, faz favor!

E os portugueses é que têm fama de confiados e grosseiros...

O Coronel Lima Câmara, para quem não deve ser novidade tão insolente hábito, que não é de agora e se generaliza cada vez mais, devia pôr em campo a sua polícia de costumes, para prender em flagrante os atrevidaços moleques da Light, como provocadores de perturbação da ordem pública.

O Sr. Chefe de Polícia há de compreender que, por causa de um assobio próprio de chamar a caninos, pode, em casos como este, haver tiro “pra cachorro”, se o passageiro não for nenhuma “galinha morta” e resolver virar “bicho”.

Texto escrito por Nestor Tambourindeguy Tangerini [1895-1966], na década de 1940, para ser publicado com o pseudônimo Benedito Mergo Lião

n.tangerini@uol.com.br, tangerini@oi.com.br

Bergamota
Enviado por Bergamota em 25/02/2008
Código do texto: T874731