Bigodes

Deus é um machista gozador! Criou o homem, bicho depravado. Deu à mulher um castigo, deu à mulher um destino.

Estou pagando por todos os meus pecados! Meu nome é Maria Clarice (Maria de minha avó, e Clarice de minha mãe). Talvez seja por isso que eu esteja sendo punida. Punida pelos erros de Maria, pelos erros de Clarice e pelos meus próprios erros... Resolvi me apaixonar por um bigode. Não apenas um bigode, mas o bigode de Jamelino. Nem grande, nem pequeno, nem preto, nem louro... cinza, incrivelmente prata. Não sabe você a beleza daquela penugem sobre sua boca. Foi amor à primeira vista!

Fui logo perguntando seu telefone, endereço, nome dos pais, RG, tipo sangüíneo... Não demorou muito Jamil (apelido que lhe dei) convidou-me para conhecer sua casa. Pensei que sairíamos depois para jantar fora, mas ele preferiu preparar-me um banquete... Sentada na sala eu tinha uma visão maravilhosa! Através de uma pequena fresta, eu enxergava a cozinha, mais especificamente o Jamil, mais especificamente o seu bigode. Maravilha era poder olhar aqueles pêlos organizadamente descabelados em movimento. Quase perdi o ar!

Após duas horas, Jamil me conduziu à sala de jantar. O “banquete” era composto por um pouco de arroz, um bife tostado, uma meleca amarela e algumas ervilhas. Tudo com um tempero horroroso, uma aparência terrível e, como se fosse pouco, o impossível: o sabor era pior ainda! Disse a Jamil que estava di-vi-no! Tudo bem, eu sei que não existe homem perfeito. Mas eu não precisava de comida se poderia me deliciar durante horas olhando aquele bigode...

Depois de algumas semanas, já estávamos noivos e com data marcada para o casamento para dali a dois meses. Meus pais perguntavam detalhes a respeito do meu noivo e tudo o que eu sabia dizer era o quanto o amava, o quanto era lindo ele e seu bigode...

Chegou o dia mais feliz da minha vida! Atravessei a nave abraçada ao meu pai. Olhava a igreja, estava magnífica! Os amigos presentes, eu olhava para o altar e nada dele. Ele não estava lá! O amor da minha vida tinha sumido! Apalpava seu rosto a procura de algum fio sobrevivente, mas nada restara... Ele havia raspado o bigode! Entrei em crise, quebrei vaso, joguei arranjos pelo chão... desmaiei. Depois disso, só um branco.

Acordei em um quarto de uma clínica sem compreender o que havia ocorrido. Meus pais me recontaram toda a história, e eu, envergonhada, jurei que nunca mais gostaria de ver um bigode na minha frente. Pedi desculpas a eles. Sabia que tudo que havia ocorrido foi por minha imaturidade.

Ao chegar o médico, não deu outra...

Era um mexicano maravilhoso...