AUSÊNCIA...

 

 

Ela era uma das dez “Guapuruvu” do parque, aqui na frente do prédio onde vivo. Cresceu ali, ao lado direito do Bloco.

Era jovem, talvez beirasse os vinte e três anos, não mais do que isto.

Acompanhei seu crescimento.

Fiz fotos de várias fases de sua existência, como as mães fazem nos aniversários dos filhos. Penso que ela gostava disso.

Dava pra ver que tinha pressa, pois florescia sempre antes das outras nove.

Suas delicadas flores amarelas, além de belas, serviam de alimento para as abelhas e passarinhos.

Eu gostava de pensar que seu florescer prematuro era só pra agradar-me. Seus galhos, parecidos com chifres de alce, eram um encanto e, neles, como nos das outras árvores, havia ninhos e casas de joão-de-barro.

Eu estava no trabalho quando os homens chegaram com as serras para a execução.

Um morador do prédio pediu para salvarem os ninhos.

Mas foi tudo inútil, as aves não aceitam violação do lar.

Se havia ovos ou filhotes, morreram também.

Da minha amiga “Guapuruvu” restou a saudade.

 Restaram também as fotos de toda sua existência até à morte.

 

Por que os homens matam as árvores?


Foto e texto do álbum "Como eu vejo Brasília".
2003


(Hull de La Fuente)

Hull de La Fuente
Enviado por Hull de La Fuente em 26/02/2008
Reeditado em 29/02/2008
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