Nós, Capitus

Aristóteles afirmou que: a literatura é mais filosófica e séria do que a história; porque a literatura refere-se ao universal, e a história ao particular.

Incursionando-se pela literatura brasileira, constata-se de forma universal, a história e caminhada da mulher brasileira nos últimos cinco séculos.

As ricas e instigantes personagens femininas da nossa literatura retratam com fidelidade a trajetória e a saga da mulher.

Na literatura colonial, cronistas e viajantes em seus relatos descrevem uma mulher em completo isolamento e ignorância. Excluída de uma sociedade machista e patriarcal, a brasileira assistiu passiva as idas e vindasdo colonizador e a bárbarie que chegava em caravelas, mudando hábitos e costumes sob o pretexto de uma catequização que estabelecia novos valores e hipocrisias. Uma legião de índias aderiu ao casamento institucionalizado, outras tantas foram exploradas sexualmente.

Três séculos mais tarde, por volta de 1808, com a chegada da família real portuguesa, fomos contaminadas de maria-vai-com-as-outras, de carlotas joaquinas, e por aí a fora.

Em meados de 1800, graças a paixão de D. Pedro pelas artes, assistimos aos saraus de poesias românticas. Alfabetizadas, a despeito da proibição de nossos homens, colecionamos os primeiros folhetins, organizando-os em brochuras inventadas para sonhar escondido. José de Alencar legou-nos Iracema, a mais bela índia destas paragens. Sob suspiros e corações apertados, as mulheres do Brasil conquistaram o direito de sonhar com algo além de bordar, consturar e administrar o pequeno mundo doméstico.

Inseridas no mundo letrado, mas ingênuas ainda, líamos Castro Alves, que cantou alto e forte o destino de negros e negras distantes de suas pátrias, tratados como bichos de estimação.

Ma foi a genialidade do realismo de Machado de Assis, que nos fez Capitus. Cheia de vida e coragem, despertanto o ciúme e ódio de um Dom Casmurro confesso. Um Bentinho machista que escolhe a solidão ante o medo de uns olhos de cigana oblíqua.

Mais tarde, Graciliano Ramos legou-nos Madalena, uma delicada professora com ideal de igualdade que sucumbe ao machismo de um Paulo Honório.

Jorge Amado fez uma Teresa Batista cansada de guerra, uma Dona flor e seus dois maridos, que culmina na autonomia e sensualidade de uma Tieta do Agreste.

Na longa cominhada da mulher brasileira, o poeta Vinicius de Morais cantou com maestria a alma feminina em sua essência. Chico Buarque fez metáfora de mulher e delicadeza.

Atualmente os renomados autores de telenovelas, quando retratam a realidade, mostram que caminhamos e conquistamos muito, mas ainda há muito chão pela frente, porque ainda somos vítimas do poder econômico e da desigualdade social.

Lislopes
Enviado por Lislopes em 27/02/2008
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