Iguais

Há coisas pretas e brancas. Mas, também, vermelhas, amarelas e laranjas. Só pra não me alongar muito.

O café feito em nossas casas é preto. Já o leito é branco. Eu, por exemplo, adoro café, mas não gosto muito de leito, a menos que os dois estejam juntos.

As medalhas que os franceses ganharam na última copa do mundo de futebol são brancas, e as dos italianos amarelas. O motivo (oculto) de muitos ataques ao Iraque pelos Estados Unidos é preto – o petróleo.

No verão quente da Amazônia a chuva é recebida com alegria. Suas gotas são brancas, cristalinas, e servem para fertilizar o solo.

A palmeira mais querida no Miri, cientificamente, chama-se Euterphe Oleracea, entretanto, nós a conhecemos por açaí. Sua força já lhe proporcionou o título de “capital mundial”. Quando maduro, seus frutos ficam pretos, ao se tornarem vinho, ganham a cor violácea. Ainda não vi quem o despreze neste município. Em Paragominas muitos não gostam de açaí. Não raro adoram queijo, que é branco.

Conheço pessoas que não dispensam um mamão, cujo interior é vermelho. A banana eu curto pra caramba, apenas quando fica amarela.

Minha cor preferida pra roupa é o preto. No entanto, nunca encontrei um médico trabalhando que não fosse de branco.

No campo dos relacionamentos sou dado a fazer amigos. Tenho muitos: brancos, negros, mulatos e tantos mais. Meu parceiro, que neste ano foi aprovado no vestibular pra Matemática, tem o cabelo avermelhado, mas é natural. Há também os que pitam os seus, e eu não tenho preconceito com isso. Gosto de conversar com idosos de cabelos brancos. Dizem que tê-los é sinal de experiência.

Fiquei muito feliz meses atrás, ao saber por uma pesquisa do IBGE que, dos 100% de habitantes brasileiros, 51% têm raízes indígenas.

Na turma de Letras onde estudo há os que gostam de literatura; outros se afinam com a lingüística, e alguns vão mais pela gramática.

Apesar disso, suas diferenças em nada os dividem, pelo contrário, ainda mais os fortalecem, porque os tornam mais completos enquanto grupo.

Vejam só como são as coisas: o Ministro da Cultura no Brasil é negro. Uma das riquezas do nosso país. O cantor, talvez de maior renome por aqui, chama-se Roberto Carlos. Ele é branco. Porém, o “rei” do futebol, inclusive em termos mundiais, que também é brasileiro, é negro.

Bom, em suma, tenho ainda que parafrasear o que outrora se disse sabiamente: cuidemos das crianças... e os adultos não serão castigados!

(inspirado em brancos e negros, de Pedro Bandeira – do livro Palavras de encantamento, coleção Literatura em Minha Casa, 2001; v. 1)

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¹Educador Popular, 27. Licenciando Pleno em Letras e Monitor de Metodologia Cientifica da UEPA/Paragominas. Assessor Institucional da CAEPIM e Associação Ilha Mutirão/Japuretê. Colaborador dos Jornais Miriense e A Folha de Maiauatá.