O Sonho da Universidade e as Pedras desse Caminho

Cursar uma universidade é o sonho de milhares de brasileiros, mas, apenas uma pequena parcela tem acesso a ela e, ainda assim, a duras penas, como ilustra a história que passaremos a narrar.

Evaldo Henrique dos Santos, tem 30 anos, é natural e residente em Bonito, onde acumula as funções de auxiliar bibliotecário e professor de História; e Rogério Leandro de Oliveira, tem 25 anos, de mesma naturalidade e residência, onde exerce a função de técnico administrativo na Câmara de Vereadores.

O que ambos têm em comum?

Ambos são alunos da UNEB, Campus IV - Jacobina; o primeiro cursa o 1º semestre de História, e o segundo cursa o 1º semestre de Letras com Inglês.

Pela falta de transporte e por seus cursos serem no turno vespertino, percorrem cerca de 340 kms. (ida e volta), utilizando, para isso, uma velha moto do Evaldo, saindo às 10:30 hs. da cidade de Bonito, para estarem em Jacobina, por volta das 13:00 horas para as aulas, retornando às 17:00 hs, para estarem em Bonito a tempo de Evaldo estar na Colégio onde leciona História para o ensino fundamental, das 20:46 às 22:30 hs.

Todo este esforço e desconforto causam um grande desgaste físico e mental, considerando que as estradas constituem-se em grandes buracos, com pequenos pedaços de estrada perdidos entre eles, representando grandes perigos, não só de acidentes, como de assaltos, isto para não falar do frio nesta época do ano. Ou seja, correm riscos de vida.

O desgaste da moto e o alto custo de combustível, pneus, óleo e manutenção de forma geral, representa um alto custo para os seus baixos salários.

O que os une? O sonho, o ideal. Um grande desejo de buscarem a qualificação para atender às exigências do mercado globalizado; o prazer de aprender sempre mais sobre o mundo, buscando beber nesta fonte de conhecimentos que é a universidade, para crescer enquanto pessoa e profissional.

A solidariedade mútua que possibilita a um, compreender a necessidade do outro, pois, aos sábados, o Evaldo não tem aula; entretanto, juntamente com Rogério, pernoita de sexta para sábado, em Jacobina, na residência da presidente do DA de História, porque este tem aula no sábado pela manhã, e, se Evaldo retornasse na sexta-feira, a situação ficaria ainda mais difícil para o Rogério, primeiro pela falta de transporte e, segundo, por causa dos custos.

Ambos participaram da seleção Faz Universitário, porém, somente Rogério foi selecionado. Evaldo, apesar da grande necessidade, ficou de fora.

Somente para completar este triste quadro, no último dia 31, os professores fizeram uma paralisação sem comunicar aos alunos, o que poderia ter poupado a Rogério e Evaldo, assim como para a maioria dos alunos deste Campus, que são oriundos de outras cidades e enfrentam as mesmas dificuldades de locomoção e custos, o esforço, o tempo e as despesas decorrentes desta viagem desnecessária. Pedimos, portanto, mais solidariedade, respeito e consideração, por parte dos professores, para com estas vítimas do sistema, que os ajudem a remover as pedras do caminho e que não se constituam como tais.

Como disse Drummond:

Há uma pedra no meio do caminho...

No meio do caminho há uma pedra...

Para amenizar esta situação, a presidente do DA de História, informa que, brevemente, os estudantes da UNEB campus IV, poderão contar com o apoio da Casa do Estudante onde os alunos que residem fora, poderão pernoitar de sexta-feira para sábado; e os estudantes de fora, que residem em Jacobina e não têm condições de arcar com os custos de moradia, poderão ficar como residentes de acordo com o processo de seleção, já concluído pela comissão criada para este fim.

O DA de História, através da sua presidente Maria de Lurdes Mattos Dantas Barbosa (Lurdinha), e o DA de Geografia, através do seu ex-presidente Guatamonzi Abraão, juntamente com os alunos, agradecem ao Departamento, que, por meio da Direção do Campus, na pessoa da Senhora Cléa Inês e do diretor financeiro, empenhou todo o esforço necessário para a concretização deste projeto tão significativo e de grande importância social para a comunidade acadêmica.

Sabemos que esta é a solução para um dos problemas que os estudantes enfrentam, há muito mais a ser feito, por isso é necessário o esforço de todos para que outros projetos possam ser realizados.

Portanto, queremos registrar as dificuldades dos nossos colegas, principalmente, dos que residem em outras localidades. Nós, presidentes dos DAS. de História e Geografia, não descansaremos enquanto não vermos a CASA DO ESTUDANTE em pleno funcionamento.

Esse texto foi construído em parceria com Guatamonzi Abraão em 2003.