Entre fios, as tramas

Da cesta repleta de novelos, partiam fios que se entrelaçavam formando tramas ricamente trabalhadas.

Pelas mãos das tapeceiras, mulheres simples, maduras senhoras, amigas de longa data, as meadas de lã determinavam -também- o fio da conversa.

Falavam de tudo, um pouco de tudo o que lhes ia na alma ou que lhes vinha à mente: de suas dores, de suas angústias, das expectativas tantas vezes frustradas e de tantos sonhos realizados, mas, acima de tudo, falavam da vida, da sua própria vida, que insistia em acontecer, tão carregada de dramas, entre uma laçada e outra do trabalho a que se dedicavam!

Viver é tecer, ponto por ponto, a manta do destino, com uma imensa variedade de tons - os fortes da resistência e da perseverança, os suaves da paciência e da resignação, os cinzentos das tristezas e das perdas, os vibrantes da alegria e da paixão!

O pano que se formava em suas mãos habilidosas já nascia, assim, carregado de emoções, orvalhado pelas lágrimas que teimavam em fugir ao controle dos olhos que, ora sorriam, ora choravam, extravasando os sentimentos arquivados na memória mais profunda do coração.

E, ao final de cada jornada, ao se completarem as voltas do relógio do improvisado ateliê, sacudiam as linhas presas em seus vestidos, e retornavam todas para casa, aliviadas de um fardo que havia sido repartido entre as companheiras solidárias, cada qual tomando para si, voluntariamente, um pedaço da dor alheia.

Entre conversas -fiadas e afiadas, profundas ou nem tanto-, passavam-se os dias, os meses, os anos, teciam elas, pouco a pouco, seus tapetes, artesãs da vida, fiandeiras do próprio destino!

StelaStela
Enviado por StelaStela em 27/02/2008
Código do texto: T878555