TÁ DOIDA?

Férias, tempo de passear, se divertir, aproveitar bem os dias tão esperados que custam a chegar, mas passam rápido como foguete. Férias! Ah!

Ficar em casa também é uma opção, pode não ser das melhores, mas é uma opção, ou falta de dinheiro, você vai me dizer. Tudo bem, você acertou, optei por não viajar, pois não se tem outra opção quando não se tem dinheiro!

Uma coisa eu sei, quando se passa o dia inteiro em casa, a criatividade tem que aflorar, se não, fica-se doida! Assisti a uns sete filmes já. Fiz duas revistinhas de palavras cuzadas. E agora? A programação da TV não colabora. Que fazer mais? O banheiro estava precisando ser lavado. Quero não. Tem roupa pra passar. Tô de férias, não tá vendo?

É barulho de chuva? Subiu um calor dentro de mim. Quanto tempo tem que não saio na chuva. Assim, querendo, nem me lembro se já saí. Será que posso? Ainda pairam na lembrança as recomendações maternas: “Cuidado, menina, vem pra dentro, olha a chuva que vem vindo! Olha que seu ouvido dói de noite, depois não vem reclamar, hein! Vem, menina, pra dentro, você vai gripar, ter constipação, bronquite, asma, nariz vai escorrer!” Credo! Será que praga de mãe resiste com o tempo?

Fui para o quintal. Como a censura da gente é carrasca! Como a gente pensa no que a gente de fora vai pensar! Olhei para as plantas da horta recebendo aquelas gotinhas miúdas em suas folhas, que inveja!. Olhei as gotas mais fortes caindo das folhas grandes da mangueira. E a cadência das gotas que caíam da beirada do telhado! Era lindo! O calor interno da vontade continuava. E se eu fosse só um pouquinho? Será que os vizinhos estariam olhando por alguma fresta? Meu coração começava a acelerar.

Eu estava na varanda. Desci um degrau para chegar ao quintal. Já senti algumas gotinhas que espirravam modestamente nos meus pés. Desci outro degrau. Agora meus pés já sentiam o chão molhado, fresquinho, delicioso. Olho para cima, o céu está fantasticamente azul, e a chuva caía, gostosa, sobre o meu rosto. De repente, começo a correr pelo pequeno quintal, bater nas folhas das plantas, andar debaixo das goteiras do telhado. Pisei em poças d’água, senti a lama. Que delícia! Que delícia!

Como pude ficar tanto tempo sem sentir isso? Meu corpo todo em sintonia com a natureza, pedindo mais chuva, mais chuva! E a água escorrendo pelo meu corpo, meus lábios abertos num sorriso de satisfação, adiado há tanto tempo! Será que seria assim também se fosse naquele tempo de criança? Por que perder tanto tempo? Por que proibir prazeres como esse? Corria, escondia atrás das plantas numa brincadeira solitária, mas absolutamente agradável.

Indiscutivelmente, vindo alguém me pedir uma lista do que me deixa feliz, eu iria dizer: um delicioso sorvete de creme, assistir a um filme que me emocione, ser aplaudida de pé no final de um espetáculo, dar uma presente que surpreenda a pessoa, abraçar um amigo não visto há muito, ajudar o próximo e tomar banho de chuva (não necessariamente nessa ordem, é claro!).

Penso que se meu marido chegasse naquele instante, a única coisa que ele iria dizer seria: “Tá doida, mulher?”