A Queda D'Água Invisível

Moro em Ipu.

Bem, minha cidade ficou famosa por abrigar aquela nativa dos sonhos de José de Alencar de "cabelos negros como a asa da graúna", que tomava banho nas águas de uma bica que descia da chapada da Ibiapaba, esta que virou ponto turístico - senão o único - da minha cidade. Posso usar tal queda d'água para ilustrar minha crônica.

Há pouco estive assitindo um documentário falando dos rios do mundo - incluindo o Amazonas. Em resumo, o que eu vi foi um alerta: a água pode acabar.

Voltando a minha cidadezinha esquecida no sopé da serra, lembro que tal bica, antes esplendorosa e imponente na imensidão de pedra da chapada, hoje se resume à um mero fio de água que some antes mesmo de tocar o solo. O que houve? Posso enumerar os problemas: barragens, uso indevido, poluição, desmatamento... enfim, tudo o que não presta. A culpa? Adivinha...

Só o que posso dar é um quadro geral exemplificado pelo problema da cachoeira de minha cidade. O descaso é grande, o desperdício é enorme. Há tempos o potencial da queda d'água de Ipu era explorado. Hoje é saqueado. O mundo inteiro é assim. O bem mais precioso do ser humano está sofrendo com nossa ignorância.

No Amazonas, por exemplo, os peixes somem e o rio morre aos poucos devido a urbanização descontrolada das margens, que por sua vez gera poluição. Na África, países quase em pé de guerra por causa de rios. Infelizmente, esse quadro irá se repetir no futuro. Na Ásia e Oriente Médio, não há muitos meios de abastecer a população em geral... estamos mesmo perdidos.

Volto meus olhos para meu lar, o Nordeste. Seca após seca, exôdos, promessas... miséria. Junte a imbecilidade do homem com a água e a loucura do clima e você terá o cenário perfeito para o caos. Como eu já disse, "Se" houver cenário. O homem é mesmo um primata de última categoria.

Afinal, se somos racionais, deveríamos olhar para nós mesmos e não para o nosso bolso... Como pensar no futuro se nós estamos secando nossas fontes no presente?

Só sei de uma coisa, a incerteza prevalece. Vociferamos sem dizer uma palavra, e o mundo vai girando... até lá, tento ver da minha janela a bica de Ipu, se tornando uma queda d'água invisível.