VOCÊ MORRERIA POR AMOR?
Num domingo pela manhã ao sair para comprar o jornal, hábito de muitos anos, encontrei-me com o Sérgio; garotão de 20 anos, robusto, bonito, totalmente macambúzio, amarrotado e despenteado, com cara de quem não dormiu, sentado com as pernas em cima do banco do jardim.
Sendo amigo dele e do seu pai, fiquei preocupado e aproximei-me indagando o porquê do amuo.
Sérgio levantou os olhos e disse que a Michelle o tinha deixado por outro rapaz, e que já não tinha motivos para viver. Conversamos longamente, tentei argumentar, porém, o rapaz estava irredutível. Deixei para lá; pensei que a amargura do meu amigo fosse coisa passageira. Enganei-me.
Os dias passaram e ele continuou tristonho, alheio a tudo que acontecia a sua volta. O banzo o deixou abatido e desinteressado pela vida.
Dias atrás encontrei-me com Silvano, o seu pai, e perguntei pelo Sérgio e qual não foi a minha agradável surpresa, com a resposta:
- Ronaldo, meu amigo, o amor faz milagres. O Sérgio está passeando com a namorada em Porto Seguro. Voltou o namoro com a Michelle e estão noivos. Voltou a sorrir.
É sabido que uma grande decepção pode levar uma pessoa a desinteressar-se pela vida. A tornar-se alheio a tudo. É próprio do ser humano. É um meio de defesa.
O desinteresse da pessoa amada, muitas vezes leva ao alheiamento e a desmotivação. Faz com que a vida perca o sentido.
Ora, a motivação, que se origina do interesse, tem tanta probabilidade de se alimentar como a própria atenção.
Quem não encontra uma motivação num mundo repleto de motivos?
O que seria a própria vida senão portentosa motivação para que se procure usufruí-la com toda a intensidade e proveito? Quantos caminhos ela nos oferece!
Quantas coisas boas! Quantas oportunidades maravilhosas! E ainda há quem fale em falta de motivação?
Viver é um motivo. Desse, que é o maior, surgem outros que lhe dão mais intensidade.
Viver não é só respirar, alimentar, repousar. Seria simples demais. Seria tão automático que mais se assemelharia a um simples passamento pelos dias que a compõe e não a uma autêntica vivência.
Viver é nascer em tudo, desejar, querer, amar, progredir, guindar posições, conquistar, realizar um turbilhão de eventos.
Viver quer dizer ser feliz, satisfeito, com grandes disposições de dar e de fazer. Viver é legar, destinar, propiciar.
De tudo isso, surgem as variantes, nas quais uns têm interesse pela ciência e encontram motivação, outros se dedicam ao comércio, outros ao campo que mais condiz com suas tendências.
Mas aquele que apenas concentra sua atenção no que estritamente lhe interessa, ignorando o campo de interesse de seus semelhantes, não somente está contra o sentido humano que deve imprimir à sua existência, como também está contra si mesmo, bitolando e limitando suas próprias possibilidades.
Amar é muito bom é saudável, agora morrer por amor, definhar, perder a razão de viver, é doentio.
Mas sabemos que o tempo cura tudo e sempre bota as coisas no lugar...