Ao som de Elza Soares

Edson Gonçalves Ferreira

Estou ouvindo Elza Soares no programa de Sérginho, Altas Horas, mas não estou alto, embora esteja tomando uma taça de vinho. Não

sou devoto de Baco, sou devoto é da Virgem Maria. Hoje, contudo, olhando Elza, fiquei pensando nas mulheres e nos homens que, em nome de uma pseudo-juventude -- cobrada pela sociedade atual -- se submetem às plásticas. Nada contra, mas nada de excessos!...Elza parece mais esticada que tamborim de escola-de-samba.

Uma atriz falou, agora, sobre o filme "Tropa de elite". Não assisti ainda ao filme, mas o Serginho recebe convidados que fala que a polícia está frágil, tão frágil como nós, professores, com um salário mensal de apenas 700 reais. Eu fiz até mestrado para ganhar essa mixaria, pode? É pesado demais a gente ouvir que quem está na marginalidade ganha mais. Uma pessoa que pede esmola, sem precisar, como acontece, ganhando 30 reais por dia, se pedir esmola todos os dias, ganha 900 reais por mês. Dá para pensar, não?

A realidade do Brasil é surrealista, tão fantástica como as loucuras de Emília, de Monteiro Lobato, como a Alice no País das Maravilhas. Precisamos, urgente, de mandar a Rainha de Copas para o Planalto. Que ela leve um quilhotina bem afiada. Eles têm até cartão corporativo, alguns se aposentam com salários altíssimos apenas com cinco anos de mandato! Aqui, quem já passou dos enta, que já se aposentou como trabalhador mesmo, este mês está com diarréia. O salário-mínimo subiu, mas o salário dos aposentados não.

Olho, de novo, a imagem da Elza Soares. Esquecendo as plásticas... Que mulher fantástica!... Que voz! Você que é novinho, pode até pensar que eu estou delirando, que estou bêbado, que sou velho. Nada disso. Você sabia que ela foi mulher do jogador Garrincha. Será que você dá conta de segurar tamanha responsabilidade de ser um mito da música e um mito da História do Brasil onde, todo mundo sabe, futebol é importantíssimo.

Agora, uma jovem no programa Altas Horas, de 02.03.08, defende que o filme Tropa de Elite não é uma apologia da violência

e sim que é uma denúncia. Outro jovem critica dizendo que muitas pessoas entenderam o filme errado, não como crítica, mas como exaltação à violência. Eu não assisti ao filme, mas a realidade no Brasil é muito brutal, não é?

A maior violência que existe é o salário-mínimo que massacra todo mundo. Sim, porque a cesta básica é cara demais. Quem ganha salário-mínimo, quem é aposentado é excomungado de supermercados.

De boutique nem se fala!... O cotidiano no Brasil é mais surrealista que qualquer ficção. Aliás, quando mostram a realidade do Brasil, lá fora, todo mundo pensa que está assistindo a um filme surrealista, pode, meu Deus? E ainda tem gente fala que Deus é brasileiro. Não é, porque Deus é pura bondade.

Só para terminar, Elza Soares, com tanta plástica, não é surrealista, é realista. Ela sabe da cobrança da eterna juventude que a sociedade faz. A Ângela -- aquela que fez um monte de plástica -- também. São pessoas do gosto de Deus que, para sobreviver, utilizam-se dos artifícios da moderna-idade. Adoro ouvir Elza Soares, essa mulher, essa cantora fantástica. Se você não acha é porque, até hoje, não entendeu quão fantástica e fantasmagórica é a realide brasileira, viu?

Divinópolis, 02.03.08

edson gonçalves ferreira
Enviado por edson gonçalves ferreira em 02/03/2008
Reeditado em 02/03/2008
Código do texto: T883368
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