UM CÉU DE ANDORINHAS

ERA UMA VEZ... a Campinas da década de 20, um sonho.

A paisagem era tranqüila: pomares, casarões senhoriais, longos muros de taipa estendendo-se ao longo de quarteirões inteiros.

A paisagem campineira era conhecida como uma visão romântica. Junto às torres da Igreja Matriz erguiam-se formosas palmeiras rumo ao futuro, hoje: centenárias – o plantio foi idéia do Imperador D.Pedro II, durante uma de suas passagens pela província, no século XIX- , além das belas demais palmeiras enfileiradas do Jardim Carlos Gomes.

Nas tardes em que o dourado-violeta do crepúsculo começava a desabar sobre a cidade, o céu ponteado de centenas, de milhares de andorinhas, em revoada, bordava um magnífico tecido no céu natureza-cintilante...

Hoje, já não existe mais a paisagem tranqüila... tudo se perde na imundície da poluição lançada pelos automóveis, e os poucos novos muros que existem são utilizados para propagandas ou pichações. Não é mais uma paisagem romântica, mas violenta.

Nos dias de hoje, a velha Matriz já não existe e, em meio a blocos de concretos, ergue-se uma irritante poluição sonora.

A Campinas quase-lendária e as palmeiras imperiais (restam apenas algumas fileiras; outras palmeiras ... isoladas, aqui, ali, acolá, alhures...) já não existem. O crepúsculo é uma nuvem cinza e as milhares de andorinhas não passam de uma multidão desvairada em busca de uma vida melhor...

ELAINE BORGHI

Campinas, primavera de 2005