A IDADE DO LOBO

Ao cair da tarde, encostei-me a barraca do Jair para beber água de coco. Enquanto bebia, notei um senhor de aproximadamente 60 anos de idade, bem trajado, vasta cabeleira grisalha, que se insurgia contra todas as moças que por ali passavam.

Algumas o ignoravam, outras retribuíam os gracejos com impropérios. Ele se mantinha, orgulhosamente, como se fosse Adonis ou o mais belo dos seres humano.

Achei interessante a postura do velhote metido a galã, embora fosse ridículo.

Alguns instantes passados e notei a aproximação de duas garotas que não tinham mais que 18 anos.

Lindas, roupas coloridas, de corpos bem feitos e rebolantes.

Preparei-me para ver o desfecho.

O galã assim que viu as duas moças, postou-se no caminho das mesmas, elas olharam assustadas, sem entender o que o velhote queria. Ele elegantemente, curvou-se, beijou as mãos das meninas e as convidou para beber água de coco.

As duas garotas começaram a rir desordenadamente, e aceitaram.

O velhote não saía do lado delas e começou aquela conversa mole... Onde vocês moram? Vocês estudam? Vocês têm namorados... e por aí seguia. Depois veio a pergunta fatal:

- Vamos dar uma volta? Meu carro está logo ali...

Com ar zombeteiro as duas mocinhas entre sorrisos de deboche responderam:

- O senhor quer sair com a gente? Com nós duas?

- Sim! Vamos?

- Para onde iremos?

- Deixe comigo que as levarei ao paraíso...

A garota mais alta olhou de soslaio para a amiga, sorriu levemente e perguntou:

- Mas quem vai pagar o hospital?

- Hospital? Que hospital? Indagou o velhote.

- Sim, hospital. É claro que o senhor vai enfartar, e depois como é que fica? O que a gente vai fazer com o defunto?

O velhote ficou boquiaberto e as duas garotas rebolantes, continuaram a caminhada.

Mesmo a contragosto, não pude segurar a gargalhada.

Ao aproximar-se dos cinqüenta anos, o homem começa a se olhar no espelho e notar os sinais da idade. Seu corpo não tem mais o vigor da juventude, os cabelos começam a cair e ficam brancos. Ele então percebe que o tempo está passando mais rapidamente.

É a famosa e temida andropausa, o chamado climatério masculino, fase em que seu corpo passa por algumas alterações: diminui a produção de hormônio masculino, a testosterona, assim como diminui a atividade dos testículos, provocando então uma discreta diminuição no volume de esperma e ocasionalmente na rigidez da ereção.

Mesmo sem perder a potência sexual alguns começam a se achar acabados para a vida; tornam-se desmotivados para o trabalho, inseguros, perdem a confiança em si.

Toda essa transformação passa a se refletir na sua vida afetiva e sexual.

O pavor da impotência alinhada a diminuição do desejo, induz o homem imaturo a tentar provar ou competir com rapazes bem mais jovens.

Assustados, alguns tentam recuperar a mocidade, não se furtando a usar roupas jovens, freqüentar academias de ginástica, pintam os cabelos em demasia, etc.

Tomam algumas atitudes certas, pois procuram fazer esportes, para "ficar jovens". A postura é certa, mas o pensamento é que é errado, pois começam a querer competir com os mais jovens, para "mostrar que ainda são mais eles".

Começam a procurar companhias mais jovens, principalmente femininas. Para tanto se expõe ao ridículo na tentativa de se relacionar com mulheres muito mais jovens e começa a buscar elogios como o ar que respira. Para tanto não medem esforços, quando então caem no ridículo, como no caso acima exposto.

Pois, se conseguirem conquistar garotas jovens, estarão provando que ainda "dão conta do recado", e que sua masculinidade não pode ser posta em dúvida.

Claro que não é regra geral. O importante é acompanhar sempre a marcha do tempo e dos acontecimentos.

É saber que o tempo passa, e que sempre vem trazendo certas limitações.

Começam assim a comprar o amor, logicamente não falta quem oferte; daí para o abandono da família é questão de pouco tempo...

RONALDO JOSÉ DE ALMEIDA
Enviado por RONALDO JOSÉ DE ALMEIDA em 03/03/2008
Reeditado em 07/07/2010
Código do texto: T886114
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