TEREZA E SEUS TEMORES

A vida é como um livro de poesias. Brinca com o dia enquanto ri com a noite... Meu nome é Tereza. Sempre, desde menina, fui aficionada em perigo, todos os seus tipos. Tinha verdadeira idolatria pelo medo. Posso estar parecendo louca, mas minha ligação com o pavor é real, chega a ser o meu estado de espírito. Queria poder me lembrar do meu primeiro medo... Saber se foi amor à primeira vista... A sensação que eu tenho é que sempre fui assim.

Acredito que meu primeiro encontro com o medo deva ter ocorrido no dia em que nasci. Minha mãe conta que era uma noite muito fria de inverno, estava internada desde de manhã, já era passado das 23h quando “resolvi” nascer. Imagino que após deixar o ventre de minha mãe que eu tenha sentido o meu primeiro medo ao olhar tantas pessoas de azul, me tirando de minha mãe, enfiando objetos em meu nariz... Acho que deve ter sido lá que começou minha história de amor com o medo.

Tenho até dificuldade de explicar como uma carga de adrenalina pós medo ou susto possa me fazer tão bem... Quando menina surpreendia meus pais, que se preocupavam até com o meu caráter, pois sempre preferia as bruxas e os dragões às insossas princesas. Devorava livros e filmes de suspense e terror. A sensação após a cena vivenciada, imaginada ou assistida era como se o medo devorasse todos os meus problemas, e eu estivesse completamente leve... Isso! Acho que assim é a melhor maneira de me expressar: o medo me liberta, ocupa todas as áreas “pesadas” de preocupações do meu corpo e ao passar as levam com ele e eu fico leve. O medo me eleva a um estado de leveza, talvez seja esse estado que alguns busquem na meditação...

Durante minha adolescência era figura freqüente em parques, sempre nas filas de montanhas-russas, elevadores em queda livre, trem-fantasma... Fiz aulas de pára-quedismo, pratiquei arborismo, escaladas, qualquer esporte que me oferecesse a minha dose diária de adrenalina. O tempo foi passando, trabalhei em circo, como dublê em filmes até encontrar minha profissão... Bombeira! Fui a primeira mulher em Milharal do Oeste a tornar-se bombeira. Entre um chamado e outro lia e assistia à filmes de suspense e terror na unidade.

Meu vício foi aumentando. E cada vez a dose para me satisfazer era maior. Chegou o momento em que era difícil alcançar o “ecstasy”. Nem a comida do meu irmão, adepto de extravagâncias culinárias regada à pimenta e alimentos inusitados, fazia mais efeito. Minha família e meus amigos tentavam me animar, leia-se me assustar, traziam de tudo... tudo era velho e sem cor. Estava certa de ter sido abandonada pelo medo, ou pela capacidade de senti-lo. Fui avelhentando... Mas com a atividade que tinha (fiquei entre os bombeiros até os 67 anos), não temia o processo de envelhecer, nem a morte.

Quando tudo parecia já resolvido, redescobri minha felicidade. Tudo começou quando fui considerada velha demais para trabalhar. Fui obrigada a parar. Encontrei minha alegria com minha forçada aposentadoria:

Não sabem vocês o pavor que tenho de pagar todas as minhas contas e necessidades com meu salário mínimo...