HOMEM DE PALAVRA

Antigamente, e põe antigamente nisso, o homem tinha um misto de caráter com vergonha na cara. Quando ele prometia algo, bastava assinar o documento com um fio de seu bigode, e pronto! Estava firmado o tratado. Não voltava atrás e nem descumpria o dito compromisso, pois sua honra estava em jogo! Quando alguém queria comprar alguma mercadoria no açougue, na padaria ou na vendinha da esquina, bastava a tão famosa “caderneta” ser preenchida com o valor dos gastos, que, ao findar-se o mês, a mesma já ficava zerada, pronta para ser usada no mês seguinte.

Pagamento em prestações? Nunca atrasava por ninguém, e se isso viesse a acontecer era porque “forças ocultas” não permitiram o pagamento em dia. Essas “forças ocultas” derivavam-se de doenças na família, acidentes de grande monta ou mesmo morte. Contudo, apesar de acontecimentos de difícil superação, a família jamais ignorava resolver os acordos das mensalidades.

O cumprimento da palavra ou obrigação era firmado inclusive por crianças, em virtude de, nesse tempo, há algumas décadas, elas não faltarem à escola e fazerem, religiosamente, a tarefa (ou dever de casa), formulada por suas professoras, as quais, muitas jamais foram chamadas “tias”, mas respeitosamente “Dona Fulana”.

Nessa ocasião, não existia celular para que os pais monitorassem os filhos. Hoje? Desconfiança? Talvez! O certo é que, antigamente, bastava o filho ou a filha dizer onde estava e, de pronto, seus genitores absorviam a certeza de encontrá-los, caso fosse preciso. Porque ai daquele que ludibriasse os pais!... Dessa maneira, as crianças aprendiam garantir sua palavra como algo imutável.

Assim, mesmo na adolescência, muitas meninas já adquiriam responsabilidades de esposa, casando-se de branco, como indicação de estar quites com a promessa de sua palavra a seus pais, e igualmente a certeza de intocabilidade para seu marido, o qual firmava, com sua palavra, eterna fidelidade a ela, para todo sempre.

Áureos tempos! Parece até filme de ficção!

Entretanto, vivemos num mundo globalizado, decorrente das informações mil, sendo necessários calhamaços de papéis para garantia de somente um único documento. Documentos válidos hoje são totalmente revogados amanhã. A palavra não tem mais um pingo de valor. Não adianta mais assinar o cheque, “pois o sem-vergonha não paga!”

“Nome no Serasa? E daí? Só para manter o nome orgulhosamente limpo?!” Contudo, “garanto minha palavra na presença da pelada no fim de semana!”. “Agiota, comigo? Leva “preju”. Eu sei que agiotagem é contra a lei...”

Se meu amigo emprestar “algum” pra mim, já em seguida entra ele na fila dos inimigos, pois sempre lhe irei dizer:

- DEVO, NÃO NEGO! PAGO QUANDO PUDER!

Esta é a máxima do “nó cego”, porquanto, para ele, PODER NÃO É QUERER!

"Mas... se alguém ficar devendo pra mim... Pego no pé dele feito oficial de justiça."

Tudo isso são palavras não generalizadas. A MAIORIA dos homens de mal (antônimo dos homens de bem), felizmente, é MINORIA.

Tais carrapatos da sociedade ainda têm a coragem e a cara-de-pau de afirmar que são “homens de garantias”, ao explanar:

“Quando digo que NÃO pago, COMO SOU HOMEM DE PALAVRA, NÃO pago mesmo!”

“Não recebeu? Cobre do Dirceu!

Se ele não te pagar, muito menos serei eu!”