"Vendedor, Profissão do Passado?" =Crônica=

Nos meus tempos de vendedor de livros das grandes empresas do ramo, as maiores do país, tínhamos nós, os vendedores, uma belíssima comissão por venda, prêmios, incentivos, valorização por parte dos gerentes e diretores, recebíamos troféus quando fazíamos por merecer, ganhávamos prêmios em dinheiro e em mercadorias, ajuda de custos, adiantamentos, registro em carteira. Enfim, tínhamos real valor para as empresas que nos contratavam e sentíamos-nos valorizados quando nos esforçávamos.

Hoje em dia, observando e tomando conhecimento constante através de pessoas da família e amigos, bons e esforçados vendedores, vejo que as coisas mudaram tremendamente. Principalmente no tocante à gerência de empresas.

Pelo que tenho notado, os senhores gerentes de pequenas empresas tornaram-se uma espécie de capataz do empresário. Um dedo-duro a serviço do capital empregado, quando não é também um sanguessuga do trabalho executado pelo vendedor sob sua supervisão.

As comissões são mínimas sobre cada venda e, de vez em quando, agregadas a um salário fixo simbólico. Salário que muitas vezes é inferior ao que ganha uma ainda jovem e inexperiente empregada doméstica.

Oferecer auxílio-condução, cesta básica, pagar corretamente as comissões, parece estar virando uma raridade entre os pequenos e médios empresários. Principalmente entre os do ramo de móveis e afins.

“Inteligentíssimos”, acham que vendedores desmotivados, ganhando pouco, sentindo-se desvalorizados e mal remunerados, são lucrativos. Quem é que, trabalhando com rancor, com má vontade, com a permanente sensação de injustiça, pode produzir de verdade em uma atividade que requer bom humor, alto astral, cabeça fresca, papo agradável?

Não é à toa que em tantas lojas encontramos vendedores e vendedoras que acabam por nos fazer desistir da compra que queríamos fazer. Ficam aborrecidos por ver só o patrão ganhando, e muito, nas vendas que realizam, e acabam tratando o cliente de qualquer maneira.

Em resumo: sou do tempo em que o gerente era um amigo do vendedor e um bom funcionário do empresário. E todos ganhavam com isso.