LUIZ LEITÃO, UM POETA DE NITERÓI

UM PLÁGIO

Nelson Marzullo Tangerini

Na década de 20, em Niterói, até então capital do Estado do Rio de Janeiro, um importante movimento literário, liderado por Luiz Leitão, Nestor Tangerini, Mazzini Rubano, René de Madeiros, Apollo Martins, Gomes Filho, Luiz de Gonzaga, Mayrink, Brasil dos Reis, Olavo Bastos, Oscar Mangeon, entre outros, agitava a vida intelectual da cidade fundada pelo Cacique Araribóia, a “Cobra da tempestade”.

Segundo Lyad de Almeida, autor do livro “Lili Leitão, o Café Paris e a vida boêmia de Niterói & Niterói, poesia e saudade”, Editora Niterói Livros, 1996, “O Café Paris, ou, para sermos mais precisos, o Hotel Café e Restaurante Paris, estava localizado na Rua Visconde do Rio Branco, no 417”, no centro de Niterói.

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Em 1926, o poeta niteroiense Luiz Leitão, mais conhecido como Lili Leitão, lançava seu primeiro livro de sonetos satíricos chamado Vida Apertada, no qual continha o soneto Elas, que viria a ser plagiado por um dos maiores nomes da Música Popular Brasileira: João de Barro, o Braguinha.

Nestor Tangerini, meu pai, entre nós, em casa, sempre nos falava da “Roda do Paris” e sobre o bem humorado e irreverente Luiz Leitão, e comentava sobre este plágio.

Vejamos o soneto:

“ELAS

Eu amava a Lalá sinceramente,

Com tanto ardor que quase enlouqueci.

Depois, quis a Lelé, pura, inocente,

Que deixei pela graça da Lili.

Mas, por uma Loló, de olhar ardente,

Dos encantos daquela me esqueci.

Mais tarde, amo a Lulu, que a muita gente

Fez perder a razão como eu perdi.

E assim, foram-se todas as donzelas,

Hoje, só resta uma lembrança delas,

Que me torna tristonho e jururu.

Foram-se todas, foram-se, deixando

Meu coração, baixinho, soletrando

Lalá, Lelé, Lili, Loló, Lulu...”

O soneto Elas, - escrevo novamente - de Luiz Leitão, foi publicado em folheto da peça Tudo pelo Brasil, de Luiz Leitão e Nestor Tangerini, levada à cena no Teatro João Caetano, Rio de Janeiro, 1935, e republicado, 1947 por Nestor Tangerini, na revista O Espeto, Rio de Janeiro, 15 de abril de 1947, pág. 7.

Para que o leitor do Polegar possa fazer a comparação, publicamos, abaixo, a letra da canção Lalá, de autoria de João de Barro, o Braguinha, e Alberto Ribeiro, registrada e editada, em 1935, pela Editora Musical Magione:

“LALÁ

Amei Lalá,

Mas foi Lelé quem me deixou jururu.

Lili foi má,

Agora só quero Lulu.

Eu ando agora tão só...

Não tenho Lalá,

Lelé, Lili,

E não encontro Lulu!...

Não tenho Lalá,

Lelé, Lili, Loló.

Teu coração oh! Lulu...

É uma prisão,

Um alçapão,

Onde eu caí sem querer;

Dele eu não quero fugir,

Se um dia eu sair,

Eu sei que vou morrer!”

Fã de Braguinha, custei um pouco a assimilar e digerir esta triste história. Enviei o soneto para o odiado José Ramos Tinhorão, um dos maiores críticos musicais do Brasil. Dias depois, telefonei-lhe e perguntei se Lalá era realmente plágio de Elas. Ele também ficou surpreso, não conhecia o soneto de Luiz Leitão. E me respondeu:

- Sim, é plágio.

Luiz Antônio Gondim Leitão nasceu em Niterói, Estado do Rio de Janeiro, a 25 de janeiro de 1890, e faleceu, na mesma cidade, às 14 horas do dia 15 de junho de 1936.

Ao saber da morte do amigo, Nestor Tangerini, presta-lhe, com humor, sua última homenagem:

“Quando ele à cova baixou,

pleno de cana e de graça,

um verme aos outros gritou:

- moçada, temos cachaça”.

Nelson Marzullo Tangerini, 52 anos, é escritor, poeta, compositor, fotógrafo e professor de Língua Portuguesa e Literatura. É membro do Clube dos Escritores Piracicaba, SP [clube.escritores@uol.com.br], onde ocupa a Cadeira 073 Nestor Tangerini.

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Nelson Marzullo Tangerini
Enviado por Nelson Marzullo Tangerini em 08/03/2008
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