PEQUENOS CONTOS SURREAIS - UM P.S. PARA O DIA DAS MULHERES

Eu, que não sou Ministro do Supremo, chegava em casa cansado e, até para relaxar, ouvia os doutos debates sobre a origem biológica do corpo humano e logo percebi que se tratava de um embate entre advogados.

--Destruir um ovo de tartaruga é crime! – dizia um. E, no entendimento dele, e de qualquer outro simples mortal, do tal ovo surgiria uma tartaruga, então, ele questionava se destruir um embrião humano não seria crime também – ou algo que o valha; como disse, era um debate entre advogados e eu os ouvia como quem ouve um advogado...

-- Doutor! – Senti uma vontade, vinda do fundo do meu cansaço, de perguntar-lhe, com toda a humildade possível: – Se abandonarmos um embrião humano na areia de uma praia, ou mesmo dentro de um micro tubo de ensaio, nascerá dali um homem?

Mas como eu já disse, cansado, fechei os olhos e sonhei que andava por um tribunal onde os doutores discutiam outros valores e, depois de tanto deliberar, mandavam queimar nas fogueiras seus semelhantes por conta de bruxarias...

P.S.: Isso aconteceu dia 06, hoje é 08 de março e eu relia o texto, a propósito, descansado depois de horas de aula prática em lavouras de milho, arroz e soja onde, ao final, paramos num Dia de Campo sobre Arroz; quatro mulheres – uma era a mãe das outras três ( ou duas, me ocorre pensar que uma poderia ser nora...), nos recepcionaram, preencheram a ficha, distribuíram o material sobre as variedades plantadas naquele experimento, nos ofereceram água, cafezinho e pão de queijo.

Desde cedo no campo, quando saí de casa as minhas mulheres ainda estavam dormindo... Nem me toquei da data, só lembrando quando outra pessoa as cumprimentou.

Mas, voltando ao meu texto escrito dia 6 e transcrito acima, eu pensava no embrião humano guardado num micro tubo de ensaio, congelado no nitrogênio líquido, e me ocorreu um pensamento, soprado ao meu ouvido pelo meu espírito de poeta: bendito o fruto do teu ventre...

-- Ah, então é ali que a vida humana encontra a sua química para abrigar o espírito depois de acender a luz dos primeiros neurônios! E olha que não é tão simples assim; quantos que não vingam embora muito amados e esperados. Alguns vingam de teimosos e outros nem são bem vindos e alguns arrancados com raiz e tudo...

Divino é o ventre humano; ainda que gere exemplares muito estranhos, é o colo que acolhe a semente e a outra parte que compõe a isso que vemos no mundo, uns capazes de curar e outros não...

Chico Steffanello
Enviado por Chico Steffanello em 08/03/2008
Código do texto: T892763
Copyright © 2008. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.