TRAGÉDIAS CÔMICAS DE AMÉRICA # 2

“Caralho! Daqui a pouco é Páscoa... em que buraco você vai se enfiar dona ema?” – perguntava-se ela olhando pro café americano (que chazinho ainda lhe era demais!), sem gordura, sem cafeína, e... eventualmente... sem gosto... pelo menos sem gosto de café... Poderia até forçar a amizade e dar um jeito de passar a Páscoa com quem amava, mas Páscoa é família e ela não era mais família fazia algum tempo... “vou me sentir a lombriga no cocô... tá lá... ainda bem que tá lá... é parte potencial do cenário... mas não devia estar lá... é sinal de que algo está errado...”...

A despeito do paralelo com a lombriga, pensava ... – “Que merda!”...

...

...

– “Acorda, se veste e vai pr’o cemitério do Morumbi! O Marcos morreu! Te explico lá!” – era Luciana no telefone, dez anos antes, como se a parte do “se veste” fosse realmente instrução necessária...

“Como assim morreu? Que que esse filho-da-puta aprontou?” – perguntava-se no meio do caminho.... Não gostava do Marcos, lembrava-se, gostava da Ana, sua mulher, que se aproximara dele na qualidade de espiã, pr’á saber se era ele quem roubava ou não dinheiro do Diretório Acadêmico. Acabaram casados e nunca se soube quem drenava o caixa do D.A. lá na história antiga... mas ainda amava a Ana do fundo do seu coração e isso lhe fizera dar um jeito de aprender a gostar do Marcos, o que não tinha sido fácil...

– “Ok, mas morreu como? Se matou?” – perguntava à Luciana, antes das oito da manhã, antes do corpo chegar... ele não tinha nem trinta, não fazia o menor sentido...

– “Não! Foi acidente de carro, a cento e quarenta por hora, naquela estradinha de Jundiaí...” – respondia Luciana, impaciente pela falta de sono... “Ok.. o filho-da-puta se matou!” – concluía ela... não precisavam mais de dois neurônios pr’á saber que não se passa de sessenta por hora naquela bostinha de estrada, e ele, além de conhecer a estrada, tinha, pelo menos, mais de três (neurônios)... “O viado se matou!” – concluía ela...- “No meio do meu domingo... filho-da-puta!...”

– “Que que ‘tava acontendo? A Ana ‘tava deixando ele?” – perguntava... (não que não devesse mesmo deixá-lo, mas nunca pensara que de fato o faria...), tudo aquilo não fazia o menor sentido... ainda mais com uma criança pequena... – “Quantos anos tem a pentelhinha? Um?” – perguntava. – “Não! Quase dois!” – respondia enfática Adriana... “Beleza!!! Diferença imensa!...” – pensava ela – “Não vai lembrar de nada dessa porra... bom pra ela!”

“Ok... o enterro já acabou, o irmão caçula já pulou em cima do caixão, a viúva já não chorou... podemos ir embora?” – perguntava-se lá pelas cinco da tarde...

...

– “Hello?”

– “Babita? Is it you?”

– “No... Mother Theresa... of course it’s me! Who’s this?

– “Me, babita, forgot my accent? Get up, get dressed, I’m picking you up… the Cuban husband of our Argentinian friend is dead.”

“Que Merda!... Já vi esse filme… eu preciso de um café...”

...

...

Dalila Langoni
Enviado por Dalila Langoni em 09/03/2008
Código do texto: T893895