IMPOSTO DE RENDA, UM PESADELO
 
         Na última sexta-feira fui à reunião do condomínio. Não sou muito chegado a comparecer as tais reuniões porque sou do tipo contestador e não costumo ficar calado quando pressinto que algo não está certo. Naquela reunião não foi diferente. A síndica que já vem se perpetuando no cargo há anos esmerou-se em prestar contas de suas ações no presente mandato, visto que entre outros assuntos em pauta naquela reunião se escolheria o novo síndico. Com o desenrolar da reunião e das explicações mediante as indagações dos presentes falou-se em inadimplentes, aumento dos salários dos funcionários, aumento do pro-labore do síndico e... pasmem! de possível aumento da taxa do condomínio que já é exorbitante. Neste momento perguntei à síndica: quanto o condomínio tem em caixa? Ela foi reticente, evasiva e pouco convincentemente respondeu: acho que uns $4.000,00. Eu disse: “a sra. acha? não tem certeza?” mas esta quantia em caixa deveria constar do balancete de forma transparente. Aí não agüentei e falei: toda administração deve ter um controle rigoroso da sua receita pautando sua despesa diante do que recebe e se possível criar uma margem de segurança estabelecendo uma padronização de gastos de forma que possibilite uma reserva, isto é, uma sobra para suprir eventuais necessidades. Como disse, o valor do condomínio é exorbitante e ainda temos que arcar com quotas extras para pagamento de 13º salário de funcionários no final do ano. Perguntei então o que seria feito com aqueles $4.000,00 em caixa, ao que fui respondido que seria para completar com mais algum que sobrasse nos meses seguintes para substituir o piso da portaria que era feio. Piso feio? Mas o piso é ardózia, muito simpático e está preservado. Para que substitui-lo? Não seria mais interessante guardar os $4.000,00 para completar e assim ter como pagar o 13º dos funcionários ao invés de gastá-lo com a troca do piso meramente para resolver uma situação de estética e sobrecarregar os condôminos com quota extra? Acreditem: quase apanhei na tal reunião.
         Você que está lendo esta crônica deve estar se perguntando: por que o autor colocou o título IMPOSTO DE RENDA, UM PESADELO? e fala sobre uma simples reunião de condomínio? Respondo taxativamente querido leitor: assim como o condomínio onde moro o Brasil é um grande condomínio e o Imposto de Renda é uma taxa igual a do condomínio que pagamos. Da mesma forma como o dinheiro do condomínio quando mal administrado gera inadimplência, transtorno administrativo e por conseguinte necessidade do aumento da taxa para cobrir os gastos, assim é com o dinheiro que somos obrigados a deixar nas mãos do governo em forma de impostos. Se no condomínio sentimos o reflexo da má administração, mais ainda nos decepcionamos com o mau uso da fortuna que vai parar nos cofres públicos. A cada dia nos surpreendemos com falcatruas, corrupções e desmandos de quem deveria criteriosamente utilizar o bem público. Ao invés disto o que vemos é uma educação falida, uma saúde agonizante e uma população a beira da miséria. E por que tudo isto? Pela má administração do nosso dinheiro. As alíquotas determinadas para o pagamento do imposto de renda são absurdas tanto que acaba incentivando as pessoas a procurarem um jeitinho de escapar das garras do leão. Uma pequena parte da população declara realmente o que tem que declarar. A maioria por se julgar insatisfeita com o alto valor do imposto tenta driblar a receita federal e acreditem: o Brasil também tem inadimplentes! São os sonegadores. Estes são donos de grandes fortunas e sempre dão um jeito de pagar pouco e tirar proveito da declaração. Somada a sonegação com a má administração temos por conseguinte um déficit orçamentário. Como então resolver isto? Ora, é fácil responder. Para quem simplesmente administra fica fácil achar uma saída. A exemplo do síndico que resolve comodamente situações assim aumentando a taxa do condomínio, o Presidente da República determina: aumentem os impostos! Não seria mais fácil cortar gastos excessivos como mordomias para políticos e os tais cartões corporativos para pessoas ligadas diretamente ao governo? Eles já não recebem salários astronômicos? Que paguem suas despesas com o salário que recebem! Garanto que sobraria muito... muito dinheiro, que poderia ser utilizado na melhoria da educação, no atendimento de saúde e na alimentação da população.
 
* Esta crônica está no livro "Ponto de Vista" a ser lançado brevemente com artigos, contos e crônicas. É proibida a cópia ou a reprodução sem a minha autorização.
Valdir Barreto Ramos
Enviado por Valdir Barreto Ramos em 09/03/2008
Reeditado em 17/10/2009
Código do texto: T893975
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