Questão de confiança

Os assaltantes invadiram a casa numa tarde chuvosa de sábado. Os moradores jogavam cartas na sala de jantar, exceto a Menina, nove anos, que lia um livro no ambiente contíguo. Persuadidos pelas armas, todos obedeceram aos comandos dos três encapuzados.

A Mãe quis assegurar que a Menina não se assustasse muito. Procurou-lhe o olhar, lançou-lhe um sorriso e uma piscadela. A Menina devolveu o sorriso, deu uma rápida olhada nos ladrões e voltou ao livro, aparentemente abstraída da movimentação ao seu redor.

No dia seguinte, recuperados do susto e das horas de cativeiro, reuniram-se. Falar sobre os medos ajuda a espantar os fantasmas e acelera a recuperação pós trauma. A primeira preocupação foi com a Menina, todos intrigados com sua reação apática. Seria um caso de negação da realidade ou ela não entendera o que tinha acontecido?

- Tive medo quando os ladrões entraram – disse ela - Mas quando mamãe sorriu para mim, entendi que tudo ia ficar bem.

A Menina confiou. A origem da palavra confiança – transformar fibra em fio - remonta aos tempos em que fiar era tarefa difícil, executada em grupos que exigiam parceria e colaboração de cada parte. A confiança é bilateral, incondicional, fé cega de entrega irracional, mas não ingênua.

Credibilidade é conquistada quando alguém faz com que as outras pessoas acreditem na sua palavra a partir de sua reputação. A credibilidade é lógica, unilateral, racional e surge a partir de indicadores mensuráveis sobre o objeto no qual se pode ou não acreditar.

Ambas são conquistas diárias a partir de requisitos e ações que denotam integridade, retidão, competência, honradez de compromissos. A confiança é intrínseca e subjetiva; a credibilidade se expressa de modo extrínseco e direto. Confiança é sentimento construído aos poucos e com poucos e apazigua o espírito. Credibilidade é valor construído a partir de evidências racionais e tranqüiliza a mente.

“Quem vigiará os vigias?”

Na dúvida, procure sinais externos de credibilidade. Se não há paz ou é preciso explicitar provas, não deve ser confiança.

Maria Paula Alvim
Enviado por Maria Paula Alvim em 10/03/2008
Reeditado em 13/03/2008
Código do texto: T895436
Copyright © 2008. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.