# 4...

Só lhe restava amar-se. No sentido lato, so sentido estrito, no sentido bíblico... até não sentir mais. Expusera-se, confessara-se, redimira-se. Pedira perdão pelos erros que cometêra, pelos que houvesse um dia pensado em cometer, e mesmo pelos que sequer jamais lhe haviam ocorrido... pela sua cabeça-dura, pelo seu coração-mole... pela sua auto-estima baixa, pelas suas expectativas altas... pela taça de vinho a mais, pela trava na língua a menos. Despira sua alma, “signed, sealed, delivered”, e não se envergonhava, pelo contrário, havia sido honesta com seu coração e agora era hora de sepultá-lo. Vestira preto, estava de luto, ninguém notara. Encarava, como se encara um defunto querido, buscando olhos que não estão lá, prá se dizer um adeus que não se quer dizer...

Discordava que o conceito de “respeito” realmente limitasse seu direito de lutar pela própria felicidade, mas pouco podia fazer ante a recusa em olhá-la nos olhos e dizer-lhe, com todas as letras, que não havia mais amor ou tomá-la de uma vez por todas. Restava-lhe calar-se, enlutar-se, e assistir, passiva, à destruição de tudo o que mais prezava. De novo...

“Merda!” – concluía...

– “Alo?”

– “Olá!!!!! Achou o botaozinho que atende??? ‘Tava prá te mandar 5 dólares pelo correio, aí você podia comprar um cartão telefônico...”

– “Eu sei.. eu sei... ando ‘calada”... deculpa aí...”

– “E como é que vão as coisas?... A mãe manda beijos... E o coração?”

– “Mortinho da Silva... e me perdôe por não perguntar do seu... se diferente, vou me sentir invejosa.... se igual, contagiosa.”

"Merda!"...

Dalila Langoni
Enviado por Dalila Langoni em 11/03/2008
Reeditado em 11/03/2008
Código do texto: T895898