Enquanto ela comia o arroz salgado que ela mesma preparara, uma imagem lhe veio à lembrança: sua descoberta de mar... aos nove anos...

 

E pôs-se a questionar se descobrir o mar seria necessariamente quando se via o mar pela primeira vez... ou quando a pessoa se dava conta de que não poderia mais viver sem ele (o mar)... e que toda aquela imensidão sempre fizera parte do próprio corpo, como uma extensão de um braço que quer arrebanhar o mundo.. ou de uma perna que quer estar em todos lugares ao mesmo tempo...

 

E isto não lhe acontecera aos nove anos...

 

A sua descoberta de mar se dera não sabia quando... ou melhor, se dera num momento exato, se é que há exatidão em algo que está apenas começando a conhecer...Mas de qualquer forma, a sua descoberta de mar fora doce... tão doce, que aquele sal que amargara em sua boca, ressecando as suas crenças, nem se fizera presente... E se fizera, ela nem havia tomado consciência...

 

O mar era o que lhe importava. O mar era o que queria. E o mar era o que teria.

 

Sim. O mar. O azul. A imensidão.

 

Só não sabia (ou não queria saber) que o mar não poderia ter dono. Muito menos o azul que suas vistas nem alcançavam...

 

Pior ainda, a imensidão... Esta sim -  tivera certeza depois... - jamais poderia ser sua...

 

E, então, o sal apareceu de novo...
 
Como ele era forte! E como ele lhe trazia à realidade!

 

Precisava de sal para viver?

 

Ela gostava de sal. E às vezes sentia muito a sua falta.

 

Mas quando pensava que, para ter o sal, teria de escolher entre o viver... e o morrer no mar, sentia medo... 

E, enquanto flutuava, só pensava em como desejara que Caymmi estivesse certo...

 

Ah... Como deveria ser doce morrer no mar...

 

 

(Adriana Luz - 11 de março de 2008)

 

 

 
Adriana Luz
Enviado por Adriana Luz em 11/03/2008
Reeditado em 11/03/2008
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