O BÊBADO E O SOFÁ AMARELO

Conta Vulpino Argento, o demente, que certa vez, um homem de nome Fulgêncio flagrou a mulher em plena atividade proibida, para quem jurou fidelidade eterna, com o seu compadre no sofá amarelo da sala. A cena foi a mesma de sempre, nesses casos.

- O que é isso? – pergunta, aos berros, o marido traído.

- Posso explicar! - diz o compadre.

- Não é isso que você está pensando! - assegura a infiel esposa.

Atordoado pelo peso do belo enfeite que lhe botaram sobre a cabeça, o marido, finalmente, depois de duas semanas, encontra a solução para seu sofrimento. Decidido, vendeu o sofá amarelo.

A estranha e inútil solução adotada pelo marido traído dessa anedota, parece ter inspirado as muitas soluções que as autoridades governantes do Brasil adotam, diante de enormes problemas; problemas que podem ser resolvidos com soluções simples e definitivas. Na maioria dos casos, os governantes preferem adotar esdrúxulas medidas que resultam, evidentemente, em solução nenhuma ou pioram a situação existente.

As campanhas publicitárias com sonoras e esquisitas frases de efeito nulo, como “se for dirigir não beba” ou “aprecie com moderação” depois de vender cerveja com forte apelo visual do produto, como é da técnica publicitária, e ao prazer que certamente proporciona uma “uma loura bem gelada”, soa como ironia ou hipocrisia. Não sou contra as campanhas publicitárias; apenas contras as tolas.

Nessa linha de tolices o Governo Federal, através de uma Medida Provisória – outra esquisitice oficial – resolveu proibir a venda de bebidas alcoólicas nos bares e restaurantes das estradas federais pois entende que essa é a causa dos terríveis acidentes que matam mais pessoas do que as que morrem em conflitos armados nos paises em guerra. Nos bares, nos botecos, nas biroscas e em todo tipo de restaurante existente ao longo dos milhares de quilômetros das esburacadas estradas federais. Com isso, pretende, se não acabar, pelo menos diminuir o numero de acidentes com veículos, provocados por motoristas alcoolizados, como se fossem eles os causadores da maioria dos acidentes e não os imprudentes, os apressados, os que desrespeitam as leis específicas das estradas e a falta de conservação das rodovias. Esse sofá amarelo oficial não resolveu o problema e acrescentou outro ainda mais terrível, ou tanto quanto, que é o desemprego. Calcula-se que mais de 500 mil estabelecimentos comerciais – bares e restaurantes – nas rodovias federais estão indo a falência com a tal Medida Provisória. Milhares de empregados estão sendo demitidos porque os clientes simplesmente desapareceram. Nos pontos de parada dos ônibus das empresas de transporte de passageiros interestaduais milhares deles estão sendo punidos, pois nem mesmo com moderação estão podendo apreciar cerveja, vinho ou outra bebida da preferência deles como acompanhante de suas refeições. Um ônibus transportando 45 passageiros é dirigido por um motorista, como se sabe, e outro, em descanso, que assume a direção na troca de turno. Assim sendo apenas 2 pessoas estão impedidas de tomarem bebida alcoólica e não a totalidade dos 45 passageiros. Esses restaurantes e bares que funcionam, muitos deles, às 24 horas do dia, estão também perdendo clientes locais, moradores que costumam fazer suas refeições diárias em estabelecimentos localizados nos trechos urbanos das estradas federais em centenas de cidades país a dentro. São milhões de pessoas que não estão dirigindo nenhum veículo e que, portanto, não devem estar submetidas às leis de trânsito. Essa Medida Provisória deverá ser suspensa em breve, sem nenhum alarde, devido às pressões que o Governo Federal vem sofrendo de todos os setores prejudicados, uma vez que a medida não causou o resultado que supunham; causou outro, sem nenhuma relação com o motivo que entendera o Presidente. Além disso vem causando um enorme constrangimento e dificuldades diversas a Policia Rodoviária Federal, que sendo encarregada de controlar a aplicação da lei e de punir seus infratores, executa uma tarefa estranha as suas funções e, ainda, com um contingente incapaz de fazer cumpri-la pela insuficiente de pessoal e pelas precárias condições dos equipamentos necessários. A Medida Provisória tem servido apenas para que mais uma lei não seja cumprida em nome da sobrevivência e da manutenção dos negócios e dos empregos. Os criminosos motoristas embriagados deveriam ser presos e condenados ao cumprimento de dezenas de anos de prisão sem progressões da pena, indultos ou outros benefícios, e ter a Carteira de Habilitação cassada para o resto de suas vidas. Motoristas embriagados não circulam somente por estadas federais ou estaduais, mas, sobretudo por ruas e avenidas em todas as cidades brasileiras. É preciso acabar com essa bobagem de “pontos na carteira” como forma de punição e aplicar pesadas multas, de milhares de reais, por infração cometida, porque um acidente de carro, ônibus ou caminhão, provocado por motorista embriagado ou mesmo sem ter bebido sequer um gole de álcool é sempre muito grave; com ou sem morte. Não se conhece nenhum caso de motorista que tenha se embriagado num bar ou restaurante de alguma estrada federal e depois ter saindo dirigindo e provocado um acidente. Motoristas bêbados bebem em outros lugares, às vezes bem longe da uma estrada federal. Como no caso do marido traído, de nada adiantou vender o sofá amarelo. A mulher dele e o compadre estão se encontrando em outro lugar.

CESAR CABRAL
Enviado por CESAR CABRAL em 12/03/2008
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