APENAS PARA OUVIR E SENTIR

Ouça e apenas ouça a voz do coração. Não a voz do desejo, não a voz da luxúria, não a voz da paixão desenfreada que não leva a lugar nenhum. Ouça apenas a voz do coração. Procure entender o que ela está tentando te dizer. Perceba os pequenos sinais que ela está lhe enviando; aqueles pequenos toques sutis de uma alma em direção da outra. Apenas ouça a voz do coração que clama só no deserto, que procura por algo que nunca encontrou, e que, apenas talvez, nunca será capaz de encontrar.

Ouça a voz do coração e apenas dele, de mais ninguém. Não pense, não reflita sobre as frases que esta voz de diz, pois elas não foram concebidas para transmitir uma mensagem intelectível, apenas sensível. Ela quer ser percebida, ela almeja ser sentida. Ela quer que você sinta o seu âmago e nada mais. Apenas isso. Sentir e não pensar, pois quem sente recebe mais do que aquele que pensa que sente.

Ouça apenas a voz que sussurra algo em seus doces ouvidos. Não ouça as palavras, mas sinta as frases, perceba que cada uma delas possui uma alma própria, um sentido único que por meta marcar seu ser de forma profunda, imutável e definitiva.

Ouça apenas a voz do coração, ela fala mais alto que qualquer outra, pois na maioria das vezes possui vontade própria e insere-se no interior de todos nós. Ouça a voz do coração porque ela não mente, ela não engana, ela não ilude. Ela apenas diz aquilo que deve ser sentido.

Ouça a voz do coração e tenha certeza de que ela sempre lhe dirá aquilo que deve realmente ser sentido, para assim, dar sentido à vida.

Ouça seu coração que ele saberá fazer-lhe sentir o melhor do mundo que está à sua volta. E no fim, sempre haverá um novo horizonte para ser apreciado, um novo por do sol para ser saboreado e um novo amor para ser vivido.

Agora, apenas sinta. Sinta o brilho e o calor do sol iluminando o seu rosto, a brisa suave do vento passando pelo seu corpo quase como uma carícia, o som desta mesma brisa batendo em folhas e flores, agitando-as quase como uma sinfonia.

Sinta a emoção contida nas palavras da letra de uma música que você aprecie não se importando em que idioma ela esteja sendo tocada. Sinta a vida fluindo através de você e também através daqueles que te rodeiam, vibrando cada molécula que compõe a estrutura de seu corpo, do teu ser.

Sinta a profundidade de seus pensamentos que circulam não apenas em sua mente, mas em todo o seu ser. Perceba a sutileza com que a energia vital produzida pelo seu ser alimenta aqueles que te cercam. Sinta com o mínimo de esforço que a vida é energia que flui, recicla e revive através das experiências que vivenciamos, compartilhamos, dividimos e concedemos aos nossos semelhantes.

Sinta como existir é algo fantástico, impressionante e ao mesmo tempo assustador na medida em que nos impõe a frustrante condição da escolha, do livre arbítrio, das diversas opções que se nos apresentam e exigem de nós uma capacidade de optar por aquela que julga a melhor e que, via-de-regra nos causará sentimentos dos mais variados: dor, sofrimento, depressão, desânimo, impotência e, ao final de tudo, a certeza de nunca ter-se acertado na escolha.

Sinta. Apenas sinta. Sinta que viver é uma experiência única, um maravilhoso caleidoscópio multicolorido que nos enche de novidades, de esperança, de sensações únicas e totalmente próprias. Sinta, apenas permita-se sentir tudo aquilo que sua existência possibilitar, sem medos, sem temores, sem hesitações. Apenas relaxe ao sentir tudo isso, vivencie as experiências que lhe forem oferecidas, ciente de que tudo isso te completa e te faz mais humano do que antes.

Apenas sinta como é bom amar e ser amado, sem qualquer receio de que este amor seja algo ruim ou mau, apenas é um sentimento doce e singelo que nutre nosso corpo e nossa alma.

Sinta e aprenda com este sentir uma sensação pura e inocente de tocar o coração de alguém e por ele se sentir tocado.

Sinta, apenas sinta que amar não é algo em si mesmo, mas é algo em sua vida, pois, afinal, amar é sentir o outro mais próximo de ti e do teu ser completo – corpo, espírito e alma – ao mesmo tempo em que é receber do outro essa mesma energia com a mesma intensidade.

São Paulo, 23 de novembro de 2007.