PERDIDO NUM SUPERMERCADO .

 

 

   Tenho certeza de que minha meia dúzia de leitores já foi a um supermercado sábado de manhã, no último dia do mês. Também não quero ter nenhuma dúvida de que vários maridos já padeceram numa dessas manhãs, trombando com mulheres barbeiras que não conseguem dirigir um carrinho de compras, além de deixá-los sempre esquecidos bem no meio do nosso caminho.

   É quase certo que a maioria dos leitores já tenha passado horas na fila do caixa e justamente na sua vez de passar as mercadorias ou vem aquela funcionária chata para recolher o dinheiro ou então a caixa propriamente dita chama o gerente para trocar a bobina de papel da máquina registradora. Isso sem contar que quando você vai passar o cartão de débito naquelas geringonças eletrônicas, ouve candidamente a informação de que o sistema caiu.

   Aliás, quero fazer de público um protesto quanto a esse negócio de sistema cair. Por acaso ele (o sistema) estava correndo, tropeçou (provavelmente num dos carrinhos que as patroas deixam no caminho) e caiu ? Mas vamos ao que interessa.

   Depois de esperar um tempão na fila, quase ter esquecido de pegar um pote de sorvete de flocos, finalmente consegui sair do estacionamento . Eu estava aliviado, pois tinha certeza de que tão cedo teria que voltar ao supermercado.

   Acontece que tem certas coisas que só acontecem conosco naqueles dias em que estamos a fim de não fazer absolutamente nada. Tão logo chegamos em casa, minha mulher se lembrou de que tinha esquecido (lembrar-se de que esqueceu é dose muito forte) de trazer um pacote de colorau. Guardem este nome...colorau.

   Depois de olhar para os lados, tentar assoviar uma canção da moda, tive a certeza que seria indispensável e inevitável que eu, somente eu, voltasse ao supermercado para trazer um ou dois pacotes de.... colorau.

   Minha primeira reação foi de indignação mas logo percebi que poderia ser uma magnífica oportunidade de reforçar meu estoque de cerveja e talvez, quem sabe, comprar uma bela garrafa de vinho chileno. De vez em quando aparecem promoções interessantes de vinhos chilenos.

   Como dos males esse era o menor acabei de descarregar as compras e voltei, desta vez sozinho, para buscar o tal de colorau, as cervejas (reforço absolutamente necessário para passar o resto do sábado e um domingo com churrasco) e o vinho (excelente acompanhamento para uma boa digestão). Consegui uma vaga no estacionamento com certa dificuldade, briguei por um carrinho e fui ao setor de bebidas onde, sem nenhum problema encontrei tudo que estava precisando.

   Claro que antes de encontrar tudo o que queria, trombei com dois carrinhos que duas madames deixaram no caminho. Faltava o colorau que eu não fazia a menor idéia de onde poderia encontrar.

   Evidente que não sendo tão inexperiente assim, pedi informações a um funcionário sobre a localização do tempero que estava procurando. O rapaz me indicou e chegando a prateleira dos temperos não vi nada que se chamasse “colorau”. Comecei a ficar preocupado. Se não voltasse com dois pacotes do tal tempero minha mulher não iria gostar e talvez até brigasse comigo.

   Dei uma volta e perguntei a outro funcionário onde estava a prateleira do colorau. A nova indicação foi a mesma que a anterior e então comecei a entrar em pânico.

   Onde estava o colorau ? Resolvi telefonar para minha mulher para perguntar se pimenta do reino não servia. Ela me respondeu com toda a veemência (sabem aquela maneira firme e decidida que as mulheres as vezes utilizam para convencer ? Pois é...) que não servia. Estava precisando era de dois pacotes de colorau.

   Conhecendo minha mulher como conheço, eu só poderia voltar prá casa com dois pacotes de colorau, principalmente se considerarmos que eu também estaria levando cerveja e vinho.

   Resolvi fazer o seguinte, dei mais uma volta, tomei dois cafezinhos e voltei a prateleira dos temperos. Olhei cuidadosamente cada um dos artigos expostos e confirmei o que já desconfiava, ali não tinha nenhum produto com o nome de colorau. Decidi então pedir ajuda a uma generosa senhora que se aproximava.

   Ela, como todas as outras, deixou o carrinho de compras no caminho , deu uma olhada rápida na prateleira e me indicou a melhor marca do produto, que era inclusive a que ela usava. Como era uma senhora de meia idade, tinha certeza que ela não estava brincando , apesar do carrinho dela continuar no caminho.

   Para não fazer papel de bobo, resolvi dar outra volta e tomar mais dois cafezinhos. Voltei a prateleira dos temperos, dei mais uma olhada e confirmei outra vez. Em nenhum dos pacotes estava escrito: COLORAU!

   Quando   já estava quase disposto a voltar prá casa pronto para ouvir uma descompostura da patroa eis que se aproxima uma menina de uns doze anos no máximo e pegou dois pacotes que continham um pó vermelho sangue.

   Curioso como sou, perguntei que tempero era aquele e ela respondeu com toda displicência que era colorau.

   Quase sem acreditar peguei o pacote do tal pó vermelho sangue e pude ler as letras garrafais que indicavam : COLORÍFICO.

   Não querendo dar o braço a torcer retruquei que aquilo não era colorau e sim colorífico e não acreditando na tolice que eu estava dizendo a menina me olhou como se estivesse vendo um marciano vesgo e cinicamente me perguntou se eu não sabia que colorífico e colorau eram a mesma coisa....
 

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NOTA : ir a supermercados é um suplício tolerável. Agora, ter que adivinhar que colorau se chama colorífico é dose muito forte...Aliás, para o que serve o tal de colorau ?




(.....imagem google.....)

WRAMOS
Enviado por WRAMOS em 14/03/2008
Reeditado em 09/01/2013
Código do texto: T900071
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