"Idoso e velho... - há alguma diferença?".

Para tentar explicar esta polêmica leitores (as), fiquem atentos; vou contar uma história...

Três indivíduos, talvez velhinhos, quem sabe idosos, e, adoentados, estavam internados em um hospital da cidade de São Paulo de Piratininga.

À noite, coincidentemente, não suportando mais os males da vida e as mazelas da existência, os três velhinhos, ou, idosos, não sei bem; morrem a intervalos não muito extensos e, ou, siginificativos; o primeiro deles morre às [00h 32m], o segundo, de acordo com as informações da enfermeira chefe e do staff médico, às [01h 12m] e o terceiro, ah... - o terceiro!... - O terceiro morre às 02h e 45m], e, já pela manhã todos os três se encontram com os corpos depositados sobre o mármore frio e gélido do corredor da unidade hospitalar... - verdade é! No entanto, o ser humano, como se sabe, somente tem valor enquanto está vivo, ou, na pior das hipóteses, seguindo-se o status avarento da sociedade, quando tem alguma propriedade, algum dinheiro, algum bem a legar à parentela.

Não obstante, lá pelas 09h 15m da manhã, a família do [Everaldo] tomau as providências cabíveis, primeiro para o velório, e, póstero enterro do parente, o mesmo aconteceu com a família do [Edivaldo], e, por último, o mesmo procedimento tem a família do [Ediberto], entrementes, até no nome os caras são parecidos.

Sepultados, os três, no cemitério da Consolação, ouve-se o clamor e a choradeira tão ignóbil quanto falsa dos parentes mais próximos, e, por que não?... - Dos amigos, todos eles, interessados em herdar uma fatia da herança, de algum dos bens que os "de cujus", acumulando no interstício da vida, tivesse deixado...

No entanto, ao se despreender da usura e da disputa que configura a mazela humana, os três tomam um estranho atalho, o qual se perde de vista na imensidão da eternidade, e, se encontram diante de uma escada cujos degraus se estendem até aos limites ao infinito, e, automaticamente, ouvem uma voz que lhes ordena:... - [Indo, pegai a escada e subi! Vossa companhia já não me interessa; pois fizeram a maioria daquilo que de bom todos os seres viventes devem fazer em sua vida, e, por isso, o destino de vocês outro não o é senão o de encontrar-se com um homem, possivelmente. de barba e cabelos brancos que, certamente, os ajudará, mas,... - não se delonguem!].

Everaldo, Edivaldo e Ediberto começam a subir aquela escada; não têm a menor pressa, e, entre arvoredos, cahoeiras, quedas de água, sustenidos e bemóis de beija-flores, isentos de toda a espécie e natureza, reflexos de raios multiocores advindos das regiões mais longínquas da gênese, divertindo-se contam todos os degraus que, passo à passo, vão vencendo; contudo, só não têm consciência de um acontecimento real em suas vidas insólitas, efêmeras e transitórias sobre um planeta chamado Terra... - afinal haviam morrido e, ainda, não sabem desta realidade.

Um, dois, dez, vinte, cinqüenta, duzentos, quinhentos, mil, dez mil, cem mil, um milhão de degraus, perde-se a conta...

O último degrau se aproxima dos seus pés, uma porta se entreabre, e, entrementes, um senhor aparece e inicia um interrogatório:

[Everaldo, você faleceu de que?]. [Falecer, não; eu não faleci... - eu sofri um Infarto do Miocárdio, mas me recuperei!].

O senhor não contra-argumenta...

[Quantos anos você tem e o que você faz?].

[Bem, eu estou com noventa e cinco anos, sou escritor e tenho alguns artigos publicados em jornais além de livros editados. Não sinto nada e estou em plena atividade física.].

[E o que você fez para chegar a essa idade?].

[Procurei me conservar, não bebi, não fumei, não me droguei, não perdi noites de sono, e, não fiz extravagâncias; mas, o meu fraco são as mulheres!].

O senhor chama ao segundo; o Edivaldo...

[E você, Edivaldo, que idade tem e o que faz?].

[Estou com oitenta e nove anos, sou nadador profissional, instrutor de uma academia, vendo as minhas aulas em uma Universidade, tenho vários alunos, me mantenho ativo e não sinto necessidade de esforçar-me para desenvolver as minhas atividades.].

[E você morreu de que?].

[Como morrer? Pare com esta brincadeira... -estou vivo e bem vivo... - O que me lembro é que fui internado com uma crise de Disfunção Hepática.].

[Quais eram os seus hábitos alimentares?].

[Creio que o senhor está pensando que eu sou um beberrão inverterado, mas não. Como disse o Everaldo, eu nunca bebi, nunca fumei, nunca me droguei, inclusive, auto-ministrando medicamentos sem recomendação médica. Não obstante, ouvi quando o médico disse que eu estava com uma cirrose hepática; pensei como? Ele explicou que o meu problema foi o excesso de pimenta; a malagueta, a dedo-de-moça etc...].

O senhor argumenta:... - [Tudo bem! Sente-se ali!].

O Ediberto é entrevistado:... - [E você Ediberto; fale-me de sua morte, do que fazia, como viveu...].

[A mesma insinuação... - eu não morri, estou vivo, aliás, nem mesmo sei como vim parar neste lugar. Me lembro que pelo caminho haviam cachoeiras, rios, riachos, flores de toda a espécie e natureza, insetos de todas as famílias, e, uma escada enorme que parecia não findar.].

O senhor não contradiz:... - [Sim, mas o que você faz?].

[Lamento informar senhor que eu sou uma espécie de parasita. Não consigo caminhar, não consigo trabalhar, estou sempre hospitalizado, meu raciocínio é lento ao extremo, as minhas mãos não têm a articulação necessária para escrever, conheço música, mas os dedos não se flexionam para que eu tire as notas, e, até para comer eu sinto uma enorme dificuldade... - é uma lástima, mas, dependo de qualquer criança para me auxiliar.].

[Verdade?... - E que idade você tem?].

[Ah... - não sou idoso, somente tenho o corpo degenerado pelo desgaste extemporâneo e disso, infinitamente, eu me arrependo.].

O senhor contra-argumenta:... - [Sim, eu entendo, mas o que você faz para degenerar o corpo e que idade tem?].

[Bem, desde os meus quatorze anos que eu fumo o tabaco que os irresponsáveis dos espanhóis Rodrigo Jeres e Luiz de Torres, tripulantes da frota de Christoforus Columbus, espalharam a partir do dia 03 de novembro de 1492, primeiro pela Espanha, depois pela França, toda a Europa, a Ásia, a África, e, pelo mundo inteiro. Ademais, dos quatorze anos em diante, eu me envolvi em más companhias, passei a usar cocaina, crack, álcool, maconha; resultado... - hoje, aos vinte e três anos, eu sou um trapo ambulante, completamente aniquilado, doente e alquebrado que nem mesmo trabalhar para obter o sustento tenho condição.].

O senhor conclui:... - [Lamentável é; mas que isto sirva de lição para a humanidade. Aceitem, ou, não; vocês três estão mortos para a vida terrena, pois perderam como todos os humanos hão de perder o corpo físico, ainda que continuem vivos na eternidade, e, no seu caso você se auto-destruiu, mas o ensinamento mais eficaz é o seguinte:... - Idoso ou velho, qual é a diferença? Bem, eu diria que idoso é todo aquele que, tendo idade avançada, permanece no exercício de suas atividades normais como se ostentasse vinte, trinta ou quarenta anos, enquanto velho é todo aquele que perdeu a jovialidade e, nessas condições, se torna impossibilitado de realizar as tarefas mais simplórias. Você Everaldo e você Edivaldo são idosos porque atingem um tempo avançado na existência, mas permanecem em atividade; agora, você Ediberto é velho porque na medida em que auto se destruiu, não ostenta a mesma vitalidade que os idosos ao seu lado apresentam. É isso aí!].

Agora que você me leu prezado (a) leitor (a) classifique não para a minha pessoa, mas para você mesmo... - você é idoso ou velho?

Pode ser que, ainda, haja uma reversão!

YOSEPH YOMSHYSHY
Enviado por YOSEPH YOMSHYSHY em 15/03/2008
Código do texto: T901954
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