Educação e Cultura

Educação e Cultura

*Silvanio Alves

Em minha opinião, educação e cultura formam o binômio fundamental para evolução da cidadania de qualquer povo ou nação. Ultimamente, exercendo as prerrogativas de Conselheiro Municipal de Educação, tenho falado em diversas regiões da cidade a respeito da necessidade de se resgatar o papel da escola na formação do ser humano e nesse aspecto, é fundamental valorizar as manifestações culturais características de cada região. Creio não ser possível separar educação da cultura; existe uma relação intrínseca entre um processo e o outro.

Infelizmente, devo concordar com o fato de a cultura não estar entre as nossas prioridades por causa de uma prioridade maior: a luta pela sobrevivência. Não há como apreciar eventos de manifestações culturais de barriga vazia; não há como amar e desenvolver a cultura sem emprego; não há como priorizar a cultura sem priorizar a pessoa. Do jeito em que vão os acontecimentos, nossa cultura estará fadada à extinção. Minhas afirmações se fundamentam, não pelo pessimismo, que para mim, é um defeito, mas pelo descaso da sociedade para com a cultura; o que observei, um dia desses no bairro Afonso Pena, confirma minhas apreensões: Vi um bloco de congado passando pela rua com seus cantos e roupas características. Foi uma visão, em princípio, maravilhosa porque ali estava uma manifestação da terra e, olhando com mais atenção, doeu-me o coração de tristeza. Naquele grupo folclórico não havia uma criança sequer; não havia um jovem sequer; não havia uma pessoa abaixo dos cinqüenta anos. Isso é catastrófico, porque significa o fim daquela atividade cultural; significa que em breve não haverá continuidade. Aquela manifestação estava sem herdeiros. Embora saiba que a cultura não tenha fronteira, outra coisa que me deixa desalentado é o fato de a maioria das escolas brasileiras não darem ênfase à própria cultura. O Brasil tem um caldeirão cultural, entretanto, pelo menos aqui em Divinópolis, constato anualmente que as escolas dão mais valor ao “halloween” americano do que às festas juninas do que às festas de reis, do que aos congados e tantas outras manifestações culturais de nossa terra.

Faço estas considerações para registrar minha tristeza pela deterioração dos valores culturais de nossa gente. Tudo isso deixa claro que o capitalismo é excludente em todos os aspectos, principalmente quando alija o direito de o povo se deliciar com a cultura, cujo acesso somente alguns privilegiados podem usufruir. A cultura no Brasil é cara e inacessível. É uma realidade perversa que, ao longo dos anos, vai distanciar mais ainda o povo de sua cultura e o resultado será trágico porque significa a perda de identidade. Um povo sem cultura é um povo sem identidade, sem unidade, sem projeto e sem história. É o legado do capitalismo que destrói implacavelmente as manifestações solidárias e, cultura se constrói com solidariedade e fraternidade. Nesse sentido, a educação deveria reassumir seu papel para resgatar os valores e costumes que consolidam nossa identidade e fortalecem nossa cultura.

Pela sobrevivência, fui obrigado sair de minha terra natal em busca de dias melhores; nessa jornada, morei no estado do Pará, Maranhão, Rio Grande do Sul e agora moro em Divinópolis-MG. O Rio Grande do Sul é um dos estados brasileiros que defendem sua cultura com muita convicção. Por isso, tem maior identidade cultural.

*Texto elaborado em 08/01/2003