CARÁTER FLEXÍVEL

O caráter é flexível, agimos de acordo com nossas conveniências todo o tempo, sempre. É lindo poder ser 100% do bem, ser idôneo, acima de qualquer suspeita, fazer sempre, veja bem, sempre, a coisa certa, reciclar, não beber, não fumar, falar a verdade doa a quem doer, usar sempre camisinha, não comer carne, coitado dos bichinhos, ser amigo dos animais, adorar crianças, não trair, freqüentar a missa, seja qual for. É, é duro ser um super ser humano do bem, afinal, temos que manter a nossa fama de bonzinhos. Não, não mordemos.

Somos pior que isso, não mordemos porque não admitimos nosso instinto canibal e voraz. Precisamos crescer, trepar, comer, ganhar e chegar antes nem sabemos do quê. Mas vamos lá, trapaceamos em nome da verdade, omitimos em nome da dor alheia, reciclamos a sobre vida e deixamos a essência de tudo ao lado dos não recicláveis, bebemos, fumamos, e não, não usamos sempre camisinha, nem látex nem moral, temos prazer em comer o sangue escorrendo, e nossos animais, são capachos para sustentar a idéia em que ainda somos bem recebidos por alguém em nossos lares. Cruel, não, apenas a pontinha do cume de nossas ambições. Defeito? Não, chamo isso de natureza. Somos feitos assim, cheios de vícios e pré condições, aliados a lei de Gerson e suscetíveis a tal lei de Murphy, a qual invariavelmente nos persegue da vida ao fim da historia. Não desdenho de minha casta humana se assim podemos chamar, apenas dou a Cezar o que é de Cezar. Somos vorazes por nossos próprios umbigos, enxergamos alem disso, somente o que nos interessa politicamente, sexualmente, financeiramente, e que garanta prazer ou sobrevivência. Nada mais, objetivamente maquinas de sobrevivência trabalhando ao que foram programadas. Nossa opinião é fixa, firme e solida até contrapormos a prova final, a qual claro, muda todo ponto de vista, fazendo o fim, ser o inicio ou vice versa. Sustentamos tudo aquilo que nos é provável, se não, o deixamos e argumentamos outra argamassa em nosso discurso impar e duplo, logo par e páreo aos paralelos que o seguem. Posso afirmar em algum momento que a personalidade é peculiar de cada ser, sendo intima e intransferível, humor, paciência, calma, nervosismo, tudo aquilo que não controlamos ou decidimos. Esta ali, latente e estoura a qualquer possibilidade de pular garganta e olhos a fora. Mas o tal caráter, este sim, adquirimos, modelamos, remodelamos, e vivemos nos baseando nele para decidir questões primamente importantes, fazendo disso, claro, mais um viés de solidas diluídas palavras nas telas moveis de nossa vida. Espero não desacreditar meu caro leitor da condição humana, só avisar como quem coloca uma placa de se possível, dê a preferência, afinal, somos assim e pronto. Sem demais argumentos ou justificativas, se te sacaneei, não foi por mau, foi instinto mesmo e só, continuamos a amizade! Simples como fazer a barba de um gorila, macacos me mordam, diria o Robin. Eu prefiro acreditar nisso e seguir caminho, esperando o pior, que sabendo disso, deixa de o ser, e vira rotina prestativa em meus critérios de decisão e apuração de mundo. Não, não sou um homem pessimista, só realista, e creio sim no poder da evolução, mas para isso, temos de ter consciência real de quem e como somos, para assim, talvez, dar um passinho pequenino em direção a uma evolução sustentavelmente justa e clara, espiritual, social e humana. Para subir os degraus da vida, é necessário demasiado querer e auto conhecimento. Por fim, se desfazer do caráter e deixar sua flexibilidade aos ecos de sua própria conveniência e prosseguir pisando descalços nas pedras da vida, sentindo o frio do chão, o molhado da chuva, as palavras do mundo, e claro, deixar o coração falar sem os deméritos de contravenções altamente controversas acreditadas por uma linha de pensamentos auto confiáveis que nos condiz como seres condicionais e sóbrios, que podem então decidir quem tem ou não credito de ser um bom e serio, homem de caráter. Boa sorte aos navegantes.