MUY AMIGO

Nos últimos tempos, a pauta das grandes redes de informação andou voltada para o uso do cartão corporativo. A novela das oito pegou carona e a dona da universidade se largou a usar cartão da instituição.

Muita gente deve pensar que a invenção do cartão corporativo é coisa de político. Acho que não é. Se bem lembro de algumas imagens da minha infância, e lá se vão mais de quarenta anos, o cartão corporativo já era coisa velha naqueles tempos. Tinha, verdade se diga, uma forma bem assemelhada, ainda que não idêntica. Explico.

Os empresários que conheci, como hoje, tiravam as notas, gasolina, hotel, restaurante, no nome da empresa, ainda que não houvesse interesse da empresa no gasto, despesa pessoal. Por que será? É que reduzindo o lucro da empresa, pagava-se menos imposto. E o que é o imposto que a empresa paga? É dinheiro público.

Empresário não paga imposto. Quem paga imposto é o consumidor que, ao comprar o produto, paga o imposto que está incluído no preço, e no lucro. Ao empresário cabe repassar o arrecadado de imposto ao Estado. Trata-se de “fiel depositário” de recurso público. Quando escamoteia para não repassar, está incidindo em desvio de recurso público.

O parlamento gaúcho custa em torno de seis milhões de reais por deputado/ano. Os cinqüenta e cinco deputados custam em torno de 0,33 bilhão de reais por ano. A sonegação de impostos estaduais, no Rio Grande do Sul, segundo cálculos mais otimistas, não é menor que seis bilhões de reais por ano e alguns auditores de finanças públicas do Estado falam em doze bilhões de reais por ano, um real sonegado para cada real arrecadado, só no ICMS.

Um reconhecido economista da Universidade de Campinas escreveu, uns três meses atrás, que se todos os impostos fossem pagos a carga tributária nacional seria de 58% do PIB. É, no arrecadado, 37%, arredondando.

Certas coisas interessantes passam ao largo dos escândalos. Os juros da dívida pública são vinte e três vezes maiores* que o custo do Congresso Nacional. Tantas benesses têm como destino os donos do capital, ilustres figuras anônimas do país e do mundo.

Quem transfere recursos (pagamos a publicidade ao adquirirmos o produto), “banca” a maior parte da conta e mantém os “isentos” informantes da nação. Assim, melhor fazer notícia falando mal dos políticos. Estes, devem ter seus atos apurados e punidos, se for o caso.

Mesmo nos tempos da juventude, fui a favor do empreendimento e do lucro. Porém, o lucro deve ser proporcional ao investimento e ao risco, numa relação justa que leve em conta a importância do capital e do trabalho.

No mais, falar bem de político não é “coisa que se faça”. Daí que escândalo no uso dos cartões corporativos passa pela classe.

Até os mais chegados correligionários se complicam para falar bem. Estava eu concorrendo pela terceira vez, quando um "companheiro" resolveu elogiar, querendo dizer que, no passado, havia sido eleito para o mesmo cargo duas vezes:

- Temos aqui um candidato, provado e reprovado!

*R$ 2,7 bilhões, orçamento do Senado; R$ 3,7 bilhões, orçamento da Câmara; R$ 150 bilhões, juro da dívida.