O erro da primeira impressão

Fui fazer um jogo de loteria há um tempo atrás, estava acumulado e a fila estava enorme quando de repente chegou um carro cheio de cinegrafista, eram luzes e pessoas para todos os lados, uma jornalista, não sei de que emissora de TV começou a fazer perguntas a todos sobre o que faríamos com o dinheiro se acertássemos. Todos responderam mais ou menos à mesma coisa, que iriam comprar uma casa, comprar um carro, ajudar os parentes, mas uma senhora que estava na fila me intrigou com sua resposta que apenas iria guardar, que espécie de pessoa faria uma aposta de loteria e se ganhasse um prémio milionário apenas guardaria, além do mais, ela já era de idade, por quê guardaria um prémio que se ela ganhasse não daria tempo para gastar? Fiquei pensando isso alguns minutos e depois de alguns dias encontrei a mesma simpática velhinha no mercado, ela estava com dois rapazes que empurravam dois carrinhos lotados de compras, na mesma hora que há vi eu fiz a associação, “lá vai a velhinha avarenta”, claro que essa associação foi sem querer, foi uma coisa instantânea, aquelas coisas que você pensa não por que quer, mas o fato é que pensei, mesmo não a conhecendo.

Depois de uns dez dias, um amigo me chamou para fazer uma visita a um orfanato, aqui mesmo em Olaria, pois ele queria fazer uma apresentação musical para as crianças abandonadas, eu concordei, adoro crianças. Chegando lá, arrumei toda a aparelhagem e deparei de novo com a velhinha da loteria, que me tratou de uma maneira super cordial, ela apresentava um carinho espontâneo e realmente me cativou em poucos minutos de conversa. Quando terminamos a apresentação fiquei sabendo que ela era uma das pessoas que mantinham aquele orfanato, era muito querida pelas crianças, também fiquei sabendo que ela mantinha toda aquela instituição com doações, ela era uma espécie de anjo da guarda daquelas criançinhas.

Aquela impressão de que ela era avarenta sumiu no mesmo instante, hoje tento não fazer juízo das pessoas sem conhecê-las, ela é uma senhora adorável.

Antes que eu me esqueça, hoje sei por que ela guardaria o dinheiro, eu faria o mesmo se pensasse em ajudar alguém no futuro.