Lúcio.

Lúcio é um jovem rapaz, nascido e criado em uma cidadezinha pequena de Minas Gerais, aos 18 resolveu tentar a vida em "Sampa", e que loucura, pensou que fosse morrer nas primeiras semanas, a Paulista, a Augusta, tudo parecia tão grande, que ele teve a impressão que conseguiria colocar a sua cidade inteira dentro da Praça da Sé.

Só no terceiro mês de estadia é que Lúcio finalmente resolve conhecer a noite paulistana, e quantas luzes, pessoas com bebidas na mão, cumprimentando as outras como se ali existisse uma amizade de décadas.Resolveu entrar em um bar, o mais tranquilo aparentemente, uma decoração simples, porém bonita, o mais familiar que ele conseguiu encontrar, perfeito para sua primeira saida noturna, pediu uma cerveja com sal, do jeito que ele gostava, e entre um gole e outro olhava detalhadamente cada um ao seu redor.Foi quando seu olhar parou e se fixou em uma jovem moça ruiva, de cabelos curtos, um ar de mulher fatal, porém com uma cara angelical, serena.Era ela, Madalena.

Madalena também estava só, parecia triste, cansada, Lúcio não sabia ao certo descrever o olhar baixo que ela tinha, são tantas coisas que definem um olhar assim, que seria arriscado opinar algo, sendo assim, Lúcio resolveu se aproximar, na tentativa de quem sabe ao menos um diálogo para aquela noite:

-Olá, como você se chama?

-Madalena.

-Prazer,Lúcio.

E esse foi o início de uma conversa que se perpetuo durante a noite inteira, onde Lúcio e Madalena filosofaram a vida, contaram sobre suas expectativas em "Sampa", deram risada, falaram de amores e desamores, fazendo com que Lúcio entendesse não só o olhar triste de Madalena, mas também a facilidade de aparentar uma amizade de décadas.

O céu já não era mais tão escuro, delicadamente ele ia clareando, a noite estava acabando.

-Preciso ir - Disse Madalena, se levantando como se tivesse pressa.

-Espere Madalena, me de seu telefone, a gente pode sair mais vezes, nos encontrar, conhecer mais dessa cidade, juntos...

-Não, eu realmente preciso ir.

-Mas eu pensei que...

-Sabe Lúcio, eu já tive muitos tombos nessa vida, e creio que começar pelo menos uma amizade com você me faria automaticamente esperar algo de ti,e eu já prometi para mim mesma não esperar mais nada das pessoas além de uma conversa noturna...

-Mas eu sou diferente.

-Ninguém é, todos nós somos iguais,ferimos as pessoas sem querer, e um dia querendo ou não, você iria me ferir.

-Você não pode prever o futuro Madalena.

-Assim como você também não pode, termine essa noite conservando apenas memórias boas sobre mim, assim como eu também preservarei sobre você,agora tenho que ir.

-Espere.

-Eu escolhi a solidão meu caro, não me faça sair dela.

E Madalena entrou no primeiro táxi que passou, deixando com Lúcio apenas as memórias, memórias essas que ele conserva até hoje, na tentativa de tornar tudo presente novamente, buscando sempre Madalena em uma cidade tão grande quanto São Paulo, saindo sempre na esperança de encontrá-la novamente, se perdendo entre vodkas e tequilas, e pensando em todas as palavras ditas por ela.

"Eu escolhi a solidão meu caro."

E isso nunca saiu da sua cabeça, queria ele encontrar Madalena para dizer "eu também escolhi a solidão, na esperança que a minha solidão encontre a sua um dia."

E Madalena estava certa,querendo ou não ferimos as pessoas.