Meio viado

Zé Mauro e Zé Maria foram amigos inseparáveis, daqueles que se acham amigos para sempre.

Glorinha interrompeu essa amizade, não porque queria, mas porque fora a paixão do Zé Mauro, mas se casou com o Zé Maria.

Dali pra frente apenas se cumprimentavam, ou ligeiro oi, vez por outra.

Moravam na mesma pequena cidade, daquelas onde todos sabem ou falam da vida dos outros.

Tomaram rumo diferente, Zé Mauro virou representante comercial, viajava muito e vendia muitas coisas, estava por assim dizer, bem de vida.

Casou-se com a Zezé, tiveram dois filhos, um casal, mas se separaram logo, depois disso, o Zé Mauro morou junto com mais duas, mas acabou ficando sozinho, pois não resistia a um rabo de saia.

Já o Zé Maria, vivia uma vidinha pacata, desde o casamento com a Glorinha, tomava conta da padaria, herança do pai, e era do balcão para casa, de casa para o balcão.

De diferente era só aos domingos, quando ia à missa das dez na matriz, e o almoço no restaurante do Luizão.

Zé Mauro era tipo magro, estatura mediana, e nem aparentava a idade que tinha.

Ao contrario, o Zé Maria, era um cara grande, e devido a sua vidinha sedentária, engordara a barriga e os lados.

Desde o episodio do casamento do Zé Maria com a Glorinha, seu ex amigo inseparável, sempre que podia tentava desqualificar o agora padeiro.

Em conversas de botequim gostava de enfatizar, que o ex-amigo era na verdade um boiola, um veado enrustido, ou em bom português como gostava de dizer...um “pederasta passivo”.

-Mas como é que você fala assim do Zé Maria?

Cobravam os demais.

-Acompanhe meu raciocínio...afirma Zé Mauro, marcando os assuntos contando os dedos das mãos.

-O sujeito não tem filhos...já viu a cara da Glorinha? Cara de mulher mal comida...devem ser como dois irmãozinhos.

-O sujeito usa pijamas de calça comprida e manga longa, além disso de seda...coisa de viado.

-O sujeito tem gato...macho que é macho tem cachorro,de preferência pit bull, fila brasileiro, no mínimo um dobermann...

-O sujeito tem amigas...vê se pode...amigas. Macho que é macho não tem amigas, tem as que já comeu e as que ainda não deram pra ele, mas tem vontade....e vão dar...

-O sujeito é todo educadinho...nem pra beliscar a bunda da Cidinha que trabalha na padaria...que buuuunda.

-Ouvi dizer que o cara agora deu pra usar creminhos contra rugas...foi o Turco da farmácia quem disse...é o não é boiolice em adiantado estado....

-A mão do cara é mais lisa que bunda de recém nascido... só não sei se usa talquinho no bumbum também...eheheh

-Alem de tudo isso, ainda tem Maria no nome...era o destino...se quizer trocar de sexo nem precisa trocar de nome....eheheheh

Ou seja , não existia argumento que tirasse da cabeça do Zé Mauro, que o agora seu desafeto não fosse uma quase Roberta Close, uma Rogéria, um Traveco fantasiado de marido.

Como as paredes tem ouvidos...e a conversa era de botequim...um primo da “vítima”, ouviu tudo e no dia seguinte bem cedinho aproveitou a compra de pão, e já deu o recado ao Zé Maria.

Não deu outra, Zé Maria enfurecido foi atrás do ex-amigo disposto a tirar essa prosa a limpo, enfurecido e bem mais forte...

Procura de lá , procura de cá, e finalmente ficou sabendo que o Zé Mauro estava no Banco do Brasil, naquelas intermináveis filas da primeira hora.

Passos largos, roxo de raiva, camisa dobrada acima dos punhos, pegou o Zé Mauro pelo colarinho e aos gritos exigiu que o mesmo repetisse tudo que falara de si no dia anterior no botequim...

A fila toda ficou em polvorosa, prestes a ver o Zé Mauro confirmar ou negar o dito.

Quase murmurando, com um sorriso amarelo ,Zé Mauro só conseguiu dizer ao ex amigo:

- Foi assim não...eu só disse que você é “meio viado”.

Lune Verg
Enviado por Lune Verg em 17/03/2008
Código do texto: T905415