Um povo vencedor

Negros: Um povo vencedor

Os negros vieram ao Brasil para fazer história. Sua marca está impregnada em todos os segmentos do país. Ao contrário de outros povos que, para cá vieram livremente ou a convite, foram trazidos à força de sua terra natal. Deixaram suas famílias, seus costumes e seus sonhos para serem reduzidos a escravos. Triste destino refletido pelos cantos dos escravizados ou pelo lamento das almas desterradas de seus templos.

Um povo resistente que superou a humilhação de ser considerado inferior, cuja capacidade seria apenas a de servir como um cãozinho, ou seja, menos que um que um animal de estimação, porque este recebe carícias de seu dono. Escravizados pelos escravocratas foram desprovidos da dignidade de ser humano livre, pensante e impedidos de desenvolverem a capacidade intelectual. Negaram o direito à vida. Em tais condições, muitos seres humanos foram dizimados e desapareceram; todavia, os negros desenvolveram a capacidade de adaptação à degradante condição de vida que lhes impuseram.

Para assegurar a sobrevivência de sua descendência, submeteram-se aos maus tratos e adotaram o Brasil como a segunda pátria. Esqueceram-se do desespero e agarraram-se a uma nova esperança. Esperança de que seu povo conquistaria mais cedo ou mais tarde a independência e liberdade. Por isso, trabalharam muito; construíram impérios; multiplicaram riquezas, embora jamais usufruíssem delas. Fizeram com que seus senhores prosperassem para que, quem sabe, aqueles fossem por um instante, iluminados pela chama da justiça e lhes oferecessem o que de direito lhes pertencia. Nunca desistiram, lutaram heroicamente para conquistar a liberdade. Nessa luta, seus costumes foram disseminados e hoje o negro está presente, ainda que em pequena escala, em todos campos da sociedade brasileira. Isto é conquista e troféu de um povo vencedor.

A cultura negra deixou marcas históricas que garantiu a sobrevivência de um povo capaz de superar as adversidades da escravatura, do preconceito e da discriminação racial, para se firmar como um povo inteligente e forte. O país cresceu, mas ainda tem uma grande dívida para com os negros do Brasil. A riqueza foi distribuída injustamente e quem mais sofre as conseqüências da pobreza são os negros, conforme apontam os indicadores de desenvolvimento humano. Entretanto, muita coisa mudou; há mais possibilidades de vitória; o preconceito está menor. Algumas portas vão se abrindo, embora timidamente.

Como negro, sinto-me orgulhoso de pertencer à espécie humana, diferente, mas, porém, protagonista de sua própria história e da história do desenvolvimento do Brasil. Alegro-me ao ver tantos negros vencedores que ocupam cargos proeminentes e provam que não é cor da pele que faz alguém mais ou menos que o outro. Sou feliz porque nosso povo deseja apenas igualdade de oportunidade a fim de que a justiça social seja um bem de todas as pessoas que formam este país maravilhoso e pacífico. O Brasil é um país que agrega brancos, negros, índios e as demais espécies do gênero humano, portanto, não deveria haver espaço para o preconceito.

Silvanio Alves

08/01/2003

Silvanio Alves
Enviado por Silvanio Alves em 17/03/2008
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