Páscoas
Lembro-me das páscoas da minha infância.
Claro que não acreditava no coelhinho!
Sabia que ele não poderia fazer tudo aquilo.
Lembranças...
O quintal era grande, o balanço, o cantinho onde brincava de “casinha”, fogãozinho, (tinha um à lenha também) e esse era de verdade!
Acompanhada discretamente por minha mãe, acendia o fogo e fazia a tal comidinha.
E como era gostosa!
Perto da páscoa a cidade mudava.
Todo o comércio ficava mais bonito, colorido.
Os ovos de páscoa expostos em todos os lugares.
Em casa, à noitinha, ouvia as histórias do coelhinho.
Aquelas mesmo, que todos ouvimos.
Bem, pelo menos as pessoas da nossa geração.
O coelhinho entraria devagarzinho em casa. (Todos deveriam estar dormindo).
E colocaria os ovos nas tocas que deveríamos construir antecipadamente.
Tínhamos duas tocas.
Uma para mim e outra para a mana.
No fundo, sabia que era fantasia, mas queria tanto acreditar que aconteceria!
Que o sonho tornava-se realidade.
Acreditava.
Esperava com ansiedade.
Fazia um esforço enorme para dormir mais cedo.
Sempre tivemos horários em casa.
Para dormir, acordar e fazer as refeições.
Era regra e cumpríamos com tranqüilidade.
Fazer a toca para a espera do coelhinho era delicioso.
Claro que sempre escolhíamos um lugar mais visível, com medo do coelhinho não encontrar a toca.
Na manhã seguinte...
Nossa!
Era tudo de bom.
Meus pais tomavam todos os cuidados para alimentar nossos sonhos.
Cuidadosamente marcavam o chão com as patas do coelhinho a caminho das tocas.
Quando encontrávamos os ovos gritávamos e sorríamos muito.
A felicidade no semblante dos nossos pais era maravilhosa também.
Essa história se repetiu por muitos anos, até que começamos a fazer gozação do coelhinho.
Valeu a pena?
Claro que sim.
Tenho lembranças.
Não dos coelhinhos, tantos!
Mas do amor, cuidado e carinho dos meus pais.
E isso é para sempre.
Está enraizado em mim.
Faz-me chorar de emoção, saudade e agradecimento pelo amor recebido.