"Intransigência, ou, julgamento?,,, - Decida!

[A questão dos direitos da criança e do adolescente e a intransigência humana são como ruas paralelas que nunca se encontram no infinito.].

Como ser um médico sem contato com sangue, lidar com construção sem aspirar o cimento e o cal, advogar sem usar a lei, ser bioquímico sem lidar com os degetos humanos...- tudo é uma questão de escolha!].

[Dezesseis anos...] pode ser, apenas, mais um interstício perante a vã filosofia, mas um milionésimo de segundo diante da insondável eternidade... - isso!

Destarte, há dezesseis anos aceita-se a incumbência de cuidar de alguém que, alquebrada no outono da vida, noventa e três anos de idade, mediante o peso da existência e do processo natural da degradação do corpo humano, vê descortinar-se, lentamente, ante si mesmo, os inefáveis umbrais da morte.

Assim sendo, na linha mestra que permeia a vida de cada ser humano, [Nina] havia, por duas oportunidades consecutivas, ainda que a intervalo de seis anos, fraturado e calcificado o fêmur esquerdo, lamentavelmente, sobre o mesmo ponto.

Entrementes, não se pode asseverar se por conseqüência direta dessas fatalidades ou não, uma das adversidades da vida, mazelas indesejáveis, ocorre.

No poslúdio da existência corpórea, os ossos saudáveis do prelúdio da historicidade, fraturados, regenerados, e, agora, crassamente, degenerados, como algozes juízes. condenam a [Nina] ao suplício do leito na realidade da morte lenta, e, ademais sob o desprezo da filha e da neta perante um asco gratuito e irreconhecível, obrigando a outrem ao estender das mãos para, assim, minorar-lhe o sofrimento e, como autêntico Simão Cirineu, levar a cruz até o Calvário da desencarnação humana.

Não obstante, todos os dias, extrai-se um copo americano de um líquido espêsso e cujo olor em muito se assemelha a um composto médico de éter, cânfora e hidróxido de alumínio misturados no dia-a-dia daquele joguete enfermo e subjugado no decurso das calendas da vida.

Pega-se no colo, leva-se ao tormento de banhar-se pelas mãos estranhas... - que fazer? Duro é, mas quem poderá afirmar ser a volitiva de Deus?

De um lado, oferta-se a outrem o amor divino que há em cada humano, do outro recebe-se as migalhas da atenção e o alento para a luta... - vale à pena?

Sim e não!

Nina cerra as janelas da alma, enlaça as cortinas da existência insuflada tanto pela volição divina quanto pelo processo natural e é assassinada pela intransigência e desamor divino tanto na filha quanto na neta, contudo, isto configura uma simplória tese e não um crasso julgamento... - [o julgamento é todo, para o juiz todo, para todos os juízes!].

Por oportuno, uma mulher que tem um par de olhos, um nariz, uma boca, trinta e dois dentes, um par de ouvidos, dois braços, duas mãos, vinte dedos, duas pernas, dois pés, vinte artelhos, um sexo para o gozo e a reprodução, um par de seios para amamentação, além de um cérebro para comandar as suas ações, e que, o Ministério da Educação diz que é mestre, mas mão o é, que grita em sala de aula que não é babá, que escreve mensagens no caderno de sua aluna, apenas, a mensagem... - [Está errado, ao invés ensinar o exercício.

Tal perfil de Educador leva Fernanda Nunes Ribeiro, de 13 anos, portadora de deficiência mental, e, profundamente sensível, a desistir de comparecer a Escola Municipal Parque Primavera III, localizada em um logradouro, não nos importa qual, da cidade de Guarulhos, na grande São Paulo de Piratininga.

A menina que a coisa que tem um par de olhos, um nariz, uma boca, um par de ouvidos, dois braços, duas mãos, vinte dedos, duas pernas, dois pés, vinte artelhos, um sexo para o gozo e a reprodução, um par de seios para a amamentação, além de um cérebro; dele não faz uso, na medida em que discrimina a um ser humano incapacitado pelos laços do apendizado, fazendo uma crassa acepção; esquece-se, ou, talvez não tenha mesmo o conhecimento de causa, no sentido de entender que, já há alguns anos, o Quociente de Inteligência - QI, foi assassinado em detrimento da descoberta, análises e classificação das chamadas Inteligências Múltiplas, e, assim, a menina, de 13 anos, 1,65 metros, é uma menina calma, pratica basquete e anda de braços dados com a natação, gosta de conversar, mas, no entanto, é incapaz, ainda que temporáriamente, de copiar as palavras, juntar as letras, escrever as frases, e, não aprendeu a ler e a escrever, não obstante, pelas regras da Lei das Diretrizes e Bases, na atualidade, esteja no quarto degrau da escala do saber.

A mulher normal como tantos outros seres humanos, e, que o Ministério da Educação insiste em classificá-la como mestre; professora não existe como profissão, mas não o é; argumenta que o caderno de Fernanda, a princípio, está sempre em branco porque ela não consegue copiar o que se escreve sobre a base da lousa.

Diante da necessidade premente de demonstrar, ainda que seja uma migalha de dedicação, a mestra passou a auxiliar a discípula, talvez para minimizar o seu próprio encargo, mas, a despeito dos exercícios inseridos nas páginas mudas do caderno, ao lado, sempre apostas, as alocuções - [aula de história: conteúdo dado na lousa (sem o conteúdo no caderno ou exercício concernente à matéria). Pedi para pintar, apenas, as palavrinhas do desenho - (ao lado do exercício executado de forma incorreta por Fernanda).

Imagine senhor leitor, a falta de responsabilidade profissional...

Se um médico se recusasse a atender a um paraplégico por estar incapacitado, um tuberculoso por estar altamente contaminado pelo bacilo de Koch, um canceroso somente porque está fadado ao abraço frio e gélido da morte, uma enfermeira não atendesse a um paciente porque o câncer de ossos está desfazendo a sua ossatura, um engenheiro não se candidatasse a tentar recuperar um prédio que fora mal estrurutado, mas, tendo solução, não é necessário ser implodido; como um mestre se recusa a dedicar-se à tarefa de reverter um quadro de extrema incapacidade que como se vê não é perene, mas sim transitória... - difícil é entender!

Não se trata de ser babá, mas de ser mestre... - mestre não é aquele que despreza; mestre é aquele que tenta aprender enquanto ensina, e, ensinar deve sempre que possível tornar um mestre feliz!

Que as mestres possam entender essa mensagem!

YOSEPH YOMSHYSHY
Enviado por YOSEPH YOMSHYSHY em 20/03/2008
Reeditado em 22/03/2008
Código do texto: T909265
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