VOVÓ DECIDIU, TÁ DECIDIDO!
Nos anos 70, do século passado, entrava-se num Banco e o atendimento era feito por pessoas, jovens, a maioria. Era a primeira alternativa de emprego para quem queria começar a trabalhar nas cidades médias e grandes. A maioria dos meus amigos de então, na cidade de Porto Alegre, trabalhavam em Bancos.
Os tempos mudaram, pessoas foram substituídas por máquinas, serviços se tornaram impessoais, os jovens se candidatam à morte e mutilações permanentes nas motos que rasgam avenidas, deixando em pânico os motoristas e, mais ainda, os familiares. E quando queremos esclarecer algo com a companhia de telefone, de energia, “disque dois se quer isto, disque três se quer aquilo, disque quatro se quer aquela outra coisa”.
Na metade dos anos 80, o atendimento em Bancos ainda era feito no caixa e foi nesta época que conheci o Antônio. Foi o mais atencioso caixa de Banco que conheci. O único que tinha fã-clube. Porém, na fila do caixa do Antônio, só entravam velhinhos. Vou chamar assim, carinhosamente. Como o meu histórico familiar cardíaco diz que estou na terceira idade (embora eu queira ludibriar esta tendência), fico mais à vontade.
A sociedade brasileira começa a conviver com a presença, cada vez mais importante, nas relações sociais, no setor econômico, com pessoas de idade mais avançada e ainda engatinha nestas questões de oportunizar a eles locais de convivência e de ocupação de tempo, saudáveis e produtivas. Vinte anos atrás, isto era bem pior, daí que uma fila de Banco era algo que rendia.
A fila do caixa do Antônio rendia muito mais, “o talão de cheque, ainda tem folhas? Quer conferir o saldo na poupança? Quer aplicar o saldo do dia no overnigth? Quer o dinheiro em notas de valores diferentes? Cuida bem da bolsa na hora de sair do Banco”. E assim desfiava um rosário de questionamentos e informações a cada um dos clientes, dos quais parecia conhecer o histórico.
Na época, se diria que enquanto os outros caixas trabalhavam em ritmo de rock pauleira, o Antônio era um samba em prelúdio. O gerente olhava atravessado mas, como na fila do Antônio sempre havia um aposentado mais abonado, tudo bem. Mas não por muito tempo.
Dona Paulínea, Vovó Paulínea para o Antônio, tinha o seu dia do mês para ir ao Banco. Dia cinco ou o primeiro dia útil depois. Chegou ao Banco e não encontrou o Antônio no caixa.
- Está doente, algum outro problema?
- Foi demitido, esclareceu o guarda da agência.
Quis saber mais, dirigiu-se até o gerente, algo conformada com as desfeitas que os homens fazem aos de mais idade.
- Sabes me dizer onde foi parar o Antônio?
- Não tenho certeza, mas me disseram que está trabalhando no Asilo da Boa Vontade, lá pros lados da Cidade Baixa.
Vovó pensou um pouquinho e decidiu:
- Então, é pra lá que eu vou!