SEXTA SANTA - UMA CRÔNICA

O silêncio, que nos nasce no espírito nas sextas feiras santas, quando nossa alma se expia e nossos pecados são colocados ao sol da razão, tudo nos chama para a reflexão. Eu refleti como num transe hipnótico e assim visitei o túmulo das minhas certezas.

No auge das divagações sobre o meu papel neste mundo, adentrei pela primeira vez, pela porta estreita de minha consciência, cujos caminhos são sempre imprevisíveis e escuros. Eu fui tateando aqui e alí, na expectativa de encontrar alguma luz na minha alma. Esperava achar a verdade vestida de branco, mas ao invés disso, achei um altar onde o remorso dos homens ardiam numa tênue fogueira quase terminada.

Tudo ainda estava turvo, mas quando meus olhos se acostumaram à escuridão eu ví um vulto familiar que me estremeceu.

No átrio de pedra, alí estava Jesus, novamente pregado na cruz. Era uma crucificação recente, pois o seu sangue ainda vertia do seu corpo e estranhamente escorria pelas minhas mãos.

Descobri horrorizado que eu ainda era o pecador mundano e cruel e que não hava assimilado suas lições. Descobri que eu era responsável por sua morte. Assim chorei por ele e minhas lágrimas foram a maior verdade que já saira de dentro de mim.

Serenamente, no entanto, Jesus sorriu e me consolou e disse que me perdoava e que me compreendia e me disse também que minha redenção estaria na minha capacidade de entender e amar o meu semelhante e que eu o procurasse nele, pois nele, ele estaria e somente nele viveria.

Feito isto, voltei a minha consciência com os mesmos defeitos. Contudo, sequei as lágrimas e me senti mais humilde, mais solidário e com mais vontade de ser humano.

Celio Govedice
Enviado por Celio Govedice em 23/03/2008
Reeditado em 18/04/2014
Código do texto: T913258
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