A ARCA DE NOÉ.

Duas horas da tarde, sexta feira santa, dia incomum para min, e para milhares de transeuntes que seguem a ideologia cristã, sem contar no calor que faz, em analogia podemos dizer que o sol de hoje corresponde mais ou menos à dor e sofrimento que Jesus passou há alguns milênios atrás, nessa mesma data, nem tanto né, acho que exagerei.

Mais mesmo assim coincidência ou não o dia esta infernal, não sei ao certo quantos graus centígrados está, mais nem precisa o corpo se expressa em meio a choro salgado chamado suor, mostra-nos a intensidade do astro rei, e olha que isso ocorre mesmo estando despido de quase toda vestimenta ou indumentária que pudesse agravar a temperatura, mais confesso que tal mordomia não vai durar por muito tempo, afinal logo mais a tarde como é de costume entre os católicos o dia esta repleto de celebrações e reminiscência da agonia de cristo e sua gloriosa subida ao céu, a chamada páscoa, no qual comemoramos nos dias de hoje nos esbaldando numa balburdia de chocolate, num lambuzar puro e sincero, sem contar que os preços dessas iguarias comemorativas são bem salgados, quem tem namorada que o diga.

Duas e quinze da tarde, o tempo esta passando, o calor então nem se fala, imaginem o inferno como não deve ser, por isso tratem de serem pessoas boas aqui na terra, por que o calor de hoje seria um lembrete de como o ninho do belzebu realmente é, i olha que não está na lista das melhores coisas da vida, pelo contrário abita a parte das piores.

Ando de um lado para o outro, pareço meio atordoado, deve ser o calor, agora já me encontro só de cueca, e nada do calor passar, bebo água, bem gelada pra varia, “msn” “orkut”, nada nem ninguém de interessante, ou alguém que ache minha entrada interessante e venha falar comigo, o que seria menos provável afinal não sou nenhum protagonista da novela das oito, mais tenho minhas qualidades, e quem não tem afinal?.

Olho para o controle da TV ele olha para min, e nós nos olhamos, de repente me encontro em ato de pura libertinagem imoral, meus dedos grossos e impetuosos deploram o corpo do controle remoto, sem dó nem piedade aperto-o intensamente em busca de saciar uma vontade horrenda de achar um simples canal que tenha algo de útil para assistir, antes de ir há celebração, que possa acrescentar algo de novo a meu pobre ser desprovido de sapiência. Mais acho que TVs não fazem milagres ainda, pelo menos por enquanto.

Mais nessa busca incessante, quando tudo parecia perdido, vem aquela luz no fim do túnel, sabe aquela, isso essa daí mesmo. Então, como é normal nessa época do ano os meios de comunicação enfatizam a trajetória de Jesus, e nesse contexto de calor, minutos passando, a hora de ir para celebração quase chegando, e a busca eletrizante por um canal que preste, acabo alcançando meu tão sonhado objetivo, a arca de nóe parece que foi encontrada, isso mesmo, é o que dizia um repórter do canal 3 da minha TV, também fiquei boquiaberto com uma curiosidade imensa de saber o desfecho dessa história alucinante que intriga a comunidade científica por várias gerações. O dilúvio afinal aconteceu ou não aconteceu?, discursão fervorosa essa, mais imagens essas que seriam exibidas só as onze horas da noite, e já eram duas e meia da tarde e as três eu tinha compromisso, provavelmente numa igreja assaz calorenta, mais por Jesus todo sacrifício vale.

Então parto destemidamente para o banheiro, nossa como e bom sentir isso, a ver escorregando pelo corpo, quanta leveza e transparência no seu olhar, calma, calma gente não vão imaginando besteira nessas mentes, hoje e sexta feira santa, nada de indecências, descrevo apenas o deslizar da água em meu corpo, para logo após produzi – lá novamente, só que um pouco mais salgada é claro, imaginado logo a multidão que estará na celebração, isso se eu conseguir sair debaixo do chuveiro que em dias de calor torna-se uma tarefa nem tão fácil assim.

Depois de me regozijar-se em um bem que a cada dia se torna mais precioso em nossa terra, me sinto renovado e pronto para enfrentar os desafios de logo mais ( o calor e a espera pela arca de noé), que não se comparam nem a um décimo do que cristo passou, será que naquela época já tinham inventado a anestesia?, tomará.

Dez para as três da tarde, horário exato de minha partida, como era de se esperar a igreja está lotada, parece que todos da cidade estão aqui, exceto meu irmão que quando sai estava em estado de torpor pleno, quase nu na área, escutando musica no seu celular novo. A muito custo e empurrões consigo um lugar para me acomodar, a celebração começa, os ventiladores parecem inúteis naquela ocasião, e como podia se esperar a missa é diferente das demais missa do ano, afinal só se tem uma sexta feira santa a cada trezentos e sessenta cinco dias, portanto deve ser bem representada pelos filhos do homem.

Em meio às leituras da celebração me distraio um pouco, e observo atentamente as reações das pessoas aos amigos corajosos que tem a capacidade e a ternura de ir a frente ler para todos, percebo que muitos, até eu mesmo, ficam minimalistamente procurando erros gramatical dos seus então “amigos”, para simplesmente balançarem a cabeça em um gesto descontraído de emulação daquilo que estão ouvindo, ou simplesmente pelo fato de não terem coragem de realizar a mesma atitude que eles, e querer achar algo que desvalorize ou tire os méritos dos mesmos, alguns chegam até comentar com o cristão ao seu lado o fato ocorrido.

Der repente algo intrigante vem aos meus olhos afoitos, vejo meu patrão na missa, ele e sua bem apanhada esposa, com todo respeito é claro. Ora, ora, quem diria, por isso que acredito veemente em deus e seu filho Jesus, que realmente realizam milagres, apesar de ele parecer um tanto quanto desconfortável com as circunstancias, e nem se quer teve o desplante e audácia de pegar um simples folheto para acompanhar a celebração, achando ele que esse ato apenas prolongaria sua agonia, e titubeando entre braços cruzados e uma face trejeitada e pensamentos perniciosos do tipo, “ o por que estar ali naquela sexta feira quente em plena três horas da tarde, horário comercial no qual o mesmo poderia estar trabalhando e gerando pecuniária e aumentando relativamente seu capital tangível, e deixando aflorar sua inerência de ser avarento, já ia me esquecendo também das estrondosas broncas em seu eficiente funcionário, no caso eu claro. Mais para sua sorte a flagelação estava para acabar, (deve ser o que ele provavelmente pensa sobre uma celebração), e já estando a celebração nas ultimas leituras, não pode eu deixar de notar, ou achar hilariante uma determinada leitura da missa, mais impossibilitado de demonstrar tal alegria é lógico, já que a ocasião não permitia euforia exacerbada, mais me abstendo só em pensamentos, e as tripas que pareciam estar em uma balada.

Sabe aquelas leituras que falam assim: rezemos pelos nossos presbíteros, etc.., rezemos pelos nossos irmão e irmãs que não creditam em cristo ressuscitado, etc, e outras mais. Até quando meus olhos arregalados percorreram o imenso folheto, uma parte da leitura que dizia, “ rezemos para nossos políticos”, não querendo desdenhar, até por que é o papel indiscutivelmente da igreja, e de nós cristãos que constituímos a mesma, é rezar pelos nossos irmãos, mais confesso que na hora aquilo suou como uma piada para meus tímidos ouvidos, e não me contive é claro, internamente.

Pensei comigo, Jesus, estás literalmente em apuros, pois essa não e uma tarefa fácil, devido o grau de especialização que adquiriram seus pobres proletariados brasilienses, como se auto-intitulam, local esse onde se encontram cravadas as raízes dessa erva daninha, e suas ramificações espalhadas Brasil afora, e não e qualquer veneno não que elimina essa praga, mais como apenas sou eu um mero aprendiz na escola da vida, e o senhor o eterno professor, e que tarefas que parecem impossíveis aos nossos olhos carnais, para o senhor são simples detalhes da raça humana, creio eu que darás um jeito. Tendo nós é claro como fator determinante nessa mudança.

Para felicidade do meu excelentíssimo e exigentíssimo patrão a celebração chega ao seu fim, não antes do beijo na cruz, como é de costume, nem prestei atenção se ele foi beijar a cruz, mais acho que não, naquela empurra, empurra de filas tenho certeza que ele não estaria, já que não é chegado em filas, ainda mais as de buffer.

E assim termina a primeira de outras celebrações que virão no decorrer deste fim de semana, até a ressurreição de cristo. Sinto-me agora com menos calor, mais não com menos curiosidade de saber ao certo se os corajosos jornalistas do canal 3 da minha TV acharam ou não acharam a arca de Noé, bom esse mistério místico vai perdurar até as onze da noite, horário no qual estarei ligado conferindo os detalhes desse acontecimento apoteótico para a comunidade cientifica de todo mundo, e para milhares de fiéis que acreditam nessa gloriosa história, eu acredito, e você acredita no dilúvio?.

Andre Santana
Enviado por Andre Santana em 23/03/2008
Reeditado em 18/06/2008
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