Minha netinha

Minha netinha

Jocenir Barbat Mutti

Março 2008

Discordando da maioria, não costumo ver muita beleza física nos bebês em seus primeiros meses de vida. Também confesso falta de paciência na comunicação com um ser que só sabe chorar e não chorar. Quando chora são diversas as suposições: está coco, está xixi, é fome, quer arrotar, é cólica... Depois de eliminadas todas as causas apontadas, o choro continua e os palpites também. Ou é manha ou... vamos para o médico. Não raras vezes até o pediatra vai ter que dar um chute. Mais calibrado, é lógico.

Minha admiração pelas crianças começa a crescer lá pelos dois anos de idade, quando ao perguntar vou receber resposta e também porque começam a ficar lindas.

Neste veraneio minha netinha estava só com um ano e cinco meses de vida, mas senti que já poderia antecipar a comunicação. No embalo do carnaval, coloquei-a sentada no primeiro degrau da escada de casa, como se fosse a arquibancada do desfile de uma escola de samba. Pensei:

- Vai ser agora.

Coloquei os óculos de brinquedo com lentes lilás, peguei o carrinho dela, com uma boneca dentro, e comecei a desfilar na sua frente. Ela me olhava e ria, senti que estava agradando. Não demorou muito para ela imitar este vô meio maluco e também sair dançando de óculos, sob os aplausos das pessoas que estavam por perto e observavam a cena engraçada.

De noite, os pais resolveram visitar amigos e deixaram a netinha com os avós. Foi só eles saírem de casa para ela apontar para a rua, dizendo:

- Maaamãããã!!!

Aquele choramingo anunciava problemas pela frente. Foi o que aconteceu.

Começamos a usar os recursos que dispúnhamos, como por exemplo, folhar cinco vezes o mesmo livrinho infantil, alternar com uma revista, para ela mostrar com o dedo e dizer se era um nenê, uma menina, um menino, uma mamã, diversas vezes.

Mas não demorou muito para ela recomeçar, apontando para a rua:

-Mammmmmããããã, mammmmããã ...

Por várias vezes, fui com ela para fora até a calçada, provando que a sua mãe não estava lá. O choro estava aumentando, sempre acompanhado do pedido de mamã!

Foi então que olhei para a televisão, estava passando uma escola de samba na Sapucaí. Peguei minha netinha no colo, sentei na mesinha de centro da sala, bem perto da televisão, e disse a ela com toda convicção:

- Olha lá a mamãe, em cima daquele carro alegórico!

E ela mordeu a isca, voltou seu interesse para a televisão.

- Abana para ela!

Não só abanou, como começou a mandar beijos ora para a mãe ora para o pai, que também já tinha sido descoberto com uma cuíca, na bateria da escola.

Daí para frente, todos os presentes batiam palmas, batucavam, abanavam junto com ela, finando-se de rir pela armadilha que aprontei à linda e sapeca netinha, que estava integrada na bagunça.

O problema mais tarde foi acalmá-la para dormir, e aí ela pregou outra peça.