O FAMOSO 'PUXA-SACO'

Existem pessoas que nascem para ser a somba dos outros. Aliás, o 'papagaio de pirata' que aparece na fotografia ou lado da autoridade, de imediato demonstra qual é a auréola real daquela celebridade. Ou seja, desde que o mundo é mundo, existe um ser inferior que de uma forma ou de outra se acha atrelado a figura do ser principal, dando-lhe guarida psicológica e alimentando o ego do empregador.

Para mim, esse ser coadjuvante, vive uma figura utópica da realidade e se eterniza como alguém de índole subserviente, porque não vê em si uma capacidade real de se tornar em algo menos sombrio. Essa situação de alguém de escorar em outrem para sobreviver é uma constante no mundo social, pois vemos o irmão que não quer trabalhar amparar-se em outro irmão que progrediu, observamos o empregado se subjugando a atividades extras-contratuais para satisfazer todas as vontades do patrão, constatamos os filhos - mesmo depois de maiores - permancerem à mercê do pátrio poder apenas e simplesmente com o objetivo de gozar das regalias que os pais oferecem, visualizamos os familiares abusarem de um parente próximo que alcançou o sucesso, para fazerem chantagem emocional com o único objetivo de colher bens materiais. Enfim, os exemplos são infindáveis de pessoas que por uma razão ou outra, optam pelo caminho menos tortuoso para alcançar a subsistência e até os bens de consumo.

Dentre os casos citados, a maioria alcançam essas regalias porque utilizam a política de bajular como forma de receber os benefícios. Existem até pessoas que tem ciúme da figura bajulada e qualquer aproximação de alguém que cause perigo a essa proximidade, o “puxa-saco” sempre dá um jeito de fazer uma intriga ou de criar uma situação peculiar que faça o “intruso” se afastar de sua fonte de riqueza.

Não há dúvida de que uma pessoa desse jaez é capaz de qualquer ato insano para manter seu trono de “puxa-saco mor”. O fato é que a pessoa com esse perfil não percebe que deixa de viver a própria vida, em favor daquela que escolheu para bajular, pois é comum o protetor submeter seu pipulo a uma série de constrangimentos, desde xingamentos, degração da moral, desconsideração etc. etc. Mas o curioso é que mesmo ante esse repugnante tratamento, a pessoa – mesmo que ofendida, no seu lado humano – ainda permanece no posto e à disposição para qualquer ordem superior.

Costumo comparar esse fato com a destreza e o discernimento de um animal. Utilizo o caso do cão que perambula por uma rua qualquer e encontra uma pessoa andando a pé, de bicicleta ou de motocicleta, sendo que a iniciativa do animal é de correr em direção a esse transuente que, com essa presença indesejada tem duas opções: ou corre ou permanece estático. Evidente que aquele que corre irá desencadear no animal o espírito de caçador compelindo-o a desenvolver a carreira e tem mais chance de ser mordido. Aquele que fica estático causa a surpresa para o animal que esperava a correria. Certamente que este último terá chance menor de ser modido.

Assim é a vida do “puxa-saco” se observada sob o ponto de vista da pessoa bajulada que sob sua ótica vê aquele ser como desprezível, porque não tem amor próprio e assim o trata de forma abrupta e inconsequente. Qualquer reação dessa pessoa, pode originar uma conduta diferente do ser bajulado, pois – como o cão – verá uma iniciativa não esperada e poderá, daí em diante, passar a considerá-lo com mais humanidade.

A questão é que o “puxa-saco” possui na sua conduta um desvio de personalidade, transmudando o seu próprio “eu” para uma imagem figurada de quem deseja ser, daí redundando um comportamento de subserviência porque não acredita em si próprio e passa apostar naquilo vive e não naquilo que poderia viver um dia. A tendência dessa pessoa é ficar estagnada no seu mundo figurado e nunca tomar iniciativa para desenvolver-se como um ser que pode evoluir.

Quanto à pessoa que é servida, mesmo que no início não aceite essa interferência servicente, acaba se acostumando e tendo necessidade de que alguém ao lado lhe masseie o ego. Assim, o erro é duplo, porque se houvesse por parte da pessoa que é servida alguma iniciativa para que rejeitasse determinadas condutas do “puxa-saco” e sobretudo lhe deixasse claro que deseja dele outros predicados, estaria contribuindo para que desarmasse as ações de subserviência e, por conseqüência, traria um resultado mais efetivo para ambos pois teria ao lado um servidor competente e não um serviçal de prontidão.

Em todo caso, como essa questão é Universal e persiste desde nossos primórdios já que nossa história registra a existência dos chamados “bobos da Corte”, temos de conviver com essa dinâmica dentro de nossa sociedade. Cabe a nós, como seres competentes, demonstrarmos nosso apreço por alguém mais graduado através de nossa desenvoltura, capacidade intelectual e tecnológica para responder por nossas atribuições. Assim, estaremos demonstrando que nossa intenção é produzir resultados efetivos para a empresa e não para a pessoa de seu proprietário.

Machadinho
Enviado por Machadinho em 28/03/2008
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