PARECE O ZÉ FALANDO...!

EU QUERO PAZ!

SOU DA PAZ!

NÃO ÀS DROGAS!

CHEGA DE VIOLÊNCIA!

NÃO À MISÉRIA!

NÃO AOS VÍCIOS!

NÃO À EXPLORAÇÃO INFANTIL!

NÃO! NÃO! NÃO!

BASTA!

Bem que essas expressões poderiam ser, e algumas foram, slogans de campanhas emocionadas e bem intencionadas, para os nossos dias, visando minorar o sofrimento de muitos e o medo de todos, advindos como conseqüência da convivência com a violência. Essas frases exprimem desejos de um povo que não agüenta mais viver se escondendo atrás de grades, enquanto seus opressores continuam fora, se armando e se despindo de quaisquer sentimentos que pudessem enquadrá-los como seres humanos. Seus escrúpulos não vão além de seus próprios interesses e maldades.

Se analisarmos as estatísticas, teremos a sensação de que tudo está perdido. Enquanto os números oficiais vão melhorando, o que se vê são mais e mais mortes, chacinas, assaltos, opressões de todos os tipos, corrupção ativa e passiva e o povo como mero espectador de um espetáculo de horror. Neste espetáculo, o povo também é ator, sem saber onde e quando entrar em cena. Quando entra em cena quase sempre o final é infeliz, cruelmente infeliz!

Não há como pensar nesse assunto sem indagar e questionar para, quem sabe, obter respostas. As respostas, obviamente, levariam às soluções e, mesmo pelo caráter cauteloso e lento, poderíamos aspirar por tempos diferentes e melhores.

Com certeza milhares de pessoas, de diversas formações – psicólogos, sociólogos, policiais, cientistas sociais, políticos, jornalistas e outros também com gabarito para versar sobre esses assuntos-problema, estão fazendo suas colocações, escrevendo sobre; participando de mesas redondas nas TVs sobre; e, de muitas outras maneiras estão sendo tratados esses assuntos. Porque essa colocação no plural? Não há como tratarmos da violência como fato isolado, pois ninguém discorda que há inúmeros fatores fundamentais se inter-relacionando.

Muitas pessoas ganharam notoriedade levantando bandeiras sobre a violência. Organizações não governamentais se formam às dúzias a partir da necessidade de se fazer algo. Ninguém agüenta mais! Outros aproveitam a situação para auferir lucros, e muitos, às custas dos cidadãos encurralados e perdidos. Muitas vezes, sem opções melhores, acabam tendo que pagar por direitos que, pelo simples fato de ser de direito, não deveriam ter preços. Direito é concedido. Haja aí os aparatos de segurança privada sendo oferecidos, Deus sabe a que preços, para que o cidadão compre o direito, que não lhe é concedido, de não ser tão vulnerável à violência.

É tão estranho e bestial a violência que emissoras de TV conseguem obter altos índices de audiência exibindo-a, de forma jornalística ou não. Jornais se mantêm no mercado vendendo a violência, de maneira sensacionalista. Há até quem diga que isto é popular. O que seria mesmo popular? Seria qualquer coisa ou assunto que elevasse significativamente os índices de audiência de programas de TVs ou rádios, que alavancasse a vendagem de jornais? Ou deveriam ser programas com abordagem adequada e com linguagem inteligível pelas pessoas que não tiveram o privilégio de cursar faculdades ou escolas culturais? Isto soa estranho mais uma vez. Educação não deveria ser privilégio e sim direito de cidadania.

Bem, ninguém duvida que muitos daqueles que se envolvem na discussão do tema estejam, de fato, querendo alcançar o objetivo de acabar com a violência ou pelo menos minorar e muito seu efeito na sociedade, para índices suportáveis.

Será que alguém acredita que o governo, em todos os níveis, federal, estadual e municipal não queira acabar com a violência? É claro que sempre há exceções, mas preferimos pensar positivamente e democraticamente na maioria.

Diante de tantas indagações nos resta fazer a principal que, com certeza, é a grande questão a ser tratada nas próximas linhas: - se todos desejam, porque não acontece o fim da violência?

Em todos os espaços abertos para discutir o assunto surgem idéias e mais idéias, onde cada qual defende a sua, mas é aí que começa o grande problema. Nunca há consenso sobre o que fazer e sobre as causas de tanta desorientação da sociedade. Não há como discutir esse tema sem levar em conta suas causas, conseqüências e quem sabe as soluções. Há que considerarmos que existam duas etapas fundamentais: diagnosticar o presente e prognosticar o futuro. Se não há um ponto de convergência, como partir para a equalização do problema, de uma vez por todas, sem tantos ensaios e erros?

Chego até a desculpar os órgãos governamentais, pois é muito difícil um acordo de opiniões sobre qualquer assunto nesta nossa sociedade pluralista, que pensa que é democrática. Geralmente, acaba sendo refém de grupos minoritários, que através do poder, ou pelo melhor acesso aos meios de comunicação, conseguem impor valores e preocupações que não são necessidades da sociedade como um todo. Transformam desejos e valores minoritários em desejos e valores da sociedade. Outro dia estava assistindo a um programa de TV quando um jornalista, claramente com opção política esquerdista, disse que os que podiam usar a TV precisavam fazer a cabeça das pessoas para só votar em políticos comprometidos com aqueles ideais, com os quais ele estava comprometido ideologicamente.

Eu pergunto: e o povo não tem direito à escolha? Se hoje o melhor para a mídia, e mídia não é nem de longe povo, é um determinado fulano o povo tem que engolir. Gozar de prestigio com a mídia o qualifica como melhor? Melhor para quem? A mídia é o conjunto de meios possíveis para levar informações e conhecimentos para o povo, ou está a serviço de alguém que paga e tem interesses na divulgação destes? O povo infelizmente só consome, pronto e acabado. Tem-se a impressão de que a grande maioria da população não teria condições de identificar o que lhes é conveniente e bom, sem que alguns privilegiados culturais lhes aponte a direção. Têm muita importância os, assim ditos, formadores de opinião.

Todas as vezes que alguém tenta questionar algo sobre a responsabilidade dos meios de comunicação, como coadjuvantes na educação da sociedade, sempre surgem às clássicas defesas corporativistas de que o telespectador tem o poder de escolher, pois pode mudar de canal. Será que tem mesmo? Desde quando escolher entre o mais e o menos apelativo, por não dispor de outra saída, significa poder alguma coisa? Os meios de comunicação, se não podem tomar para si a responsabilidade pela educação da sociedade, e concordo com isso, pelo menos não deveriam contribuir tanto pela deseducação desta sociedade, que é tão carente de valores corretos de convivência e de ideais culturais e de cidadania consistentes. Cidadania não pode ser apenas fazer greves, passeatas reivindicantes ou estar membro de uma Ong e sair defendendo o verde e o meio ambiente em que nossos filhos vão viver!

Todas essas colocações fazem a gente imaginar como deve ser difícil a qualquer governo tomar decisões de consenso, onde todas as partes envolvidas estejam convictas dos resultados esperados. Governo não é uma pessoa, são dezenas, quem sabe milhares de indivíduos, cada qual com opiniões nem sempre consensuais sobre cada assunto.

Voltando ao problema mais grave, a violência, e que exige providencias com urgência, pois ninguém agüenta mais, vamos discutir, um pouco, as medidas apresentadas rotineiramente. Exigem-se medidas educativas e preventivas para o futuro e punitivas para o presente. Vejamos, em primeiro lugar, as medidas de contenção da violência, que são discutidas exaustivamente.

Todos são unânimes em afirmar que é preciso acabar com a impunidade. Essa impunidade é gerada por desvios nos caminhos que levam à justiça. Às vezes, há condescendência de alguns setores, outras vezes negligência de outros, há ainda os que se beneficiam das mais diferentes formas de favores (dinheiro, posição social, apadrinhamentos políticos, e outros). O maior problema da impunidade é saber-se a quem punir, pois enquanto mães e pais choram a perda de filhos mortos brutalmente por assassinos frios e desumanos, há setores da sociedade organizada (Ongs, partidos políticos, igrejas, sociólogos, psicólogos e mais) que querem atribuir a responsabilidade de tais atos brutais à sociedade. Quando não, a culpa recai sobre traumas e problemas de infância, neste caso o fracasso quase sempre é dos pais, da falta de emprego e outras limitações. Quase sempre os praticantes dos crimes são inocentados por estas colocações, como bonzinhos e vitimas da sociedade. Não sendo responsáveis pelo que fazem não podem ser punidos. Que se puna a sociedade e esta está sendo punida convenientemente atrás de grades e medos, enquanto os bandidos bonzinhos estão perambulando pelas ruas sem ninguém a incomodá-los. Até a polícia tem que se esconder, pois se numa dessas tiver que trocar uns tiros com os bandidos bonzinhos, ai dela se feri-los ou matá-los. Não há como tratar de um assunto tão sério sem que nos dispamos de falsos conceitos moralistas e façamos aquilo que tiver que ser feito, doa onde tiver que doer.

Estou me lembrando de um artigo que li, dia destes, num jornal de grande circulação sobre a proibição de uso de álcool na Arábia Saudita, levando à necessidade de se fazer inseticidas sem base alcoólica, e olha que ninguém vai ingerir inseticida. O mais interessante é que ninguém ficou criticando, esperando que as leis fossem abrandadas. As leis são cumpridas naquele País, e o povo continua lá. Não deixou de ser, porque não lhe foi permitido ingerir bebida alcoólica. Se fosse no Brasil, primeiramente far-se-ia um carnaval, até desmoralizar qualquer medida ou determinação, sob quaisquer pretextos, usando os meios que lhe são oportunos e a sociedade, que nunca tem voz, sofre e é punida. Ela acaba sempre como culpada de tudo.

É muito conveniente culpar a sociedade por tudo, pois desta forma alivia-se a consciência das pessoas que cometem os crimes e daqueles que tem poder para impedir que os mesmos aconteçam. Crimes são cometidos por indivíduos, que podem estar sozinhos ou em bandos, mas a responsabilidade por estar cometendo o crime é pessoal. Enquanto for pensado de outra maneira, tentando aliviar-se a culpa individual, nunca se chegará a lugar algum. Cada cidadão é responsável pelos seus atos, diante dos demais. Ele tem todos os direitos que os demais, também todos os deveres.

Outro ponto controvertido quanto à impunidade criminal é o caso das penas. Discute-se muito e nunca se conclui nada sobre a pena ideal para cada crime. Talvez não haja mesmo a pena ideal! Após um individuo cometer vários crimes, o que fazer? Readaptá-lo à sociedade? De que forma, isto seria executável? Acredito que seria muito melhor se fosse dada maior atenção aos pequenos delitos e não ignorá-los, para que o infrator fosse reeducado a tempo de não vir a ser um bandido bestial e cruel. Melhor seria ainda que tivéssemos uma educação que desestimulasse a criminalidade. Educação, claro, não é só a oficial, mas toda manifestação com conteúdo capaz de elevar o grau de conhecimento dos indivíduos sem desvirtuá-los com falsas liberdades e argumentações culturais.

Há os crimes hediondos, repetidos em série por bandidos como o caso do bandido do parque. O que acontece? Seu apelido já seria um bom nome para filme. Não digo nada se algum cineasta não vir a comprar os direitos do dito cidadão para transformar sua vida num filme. A vida de uma vítima da sociedade, que cometeu o único deslize de estuprar friamente e matar umas dez ou onze moças (quem sabe quantas?), mostrando como a sociedade é cruel, que o transformou numa pessoa cheia de traumas e com desejo incontrolável de matar. Seria um grande apelo comercial e emocional! Para reforçar o apelo, matar foi o único remédio para curar suas feridas! E olha lá se não aparecer algum advogado querendo pegar sua causa, e entrasse na justiça com um pedido de indenização por danos morais, psicológicos e até perdas materiais, contra a sociedade que é uma mãe-pai desalmada e que não lhe deu as mulheres que ele queria e o dinheiro que ele gostaria de ter, sem que precisasse trabalhar para conseguir. Com certeza o advogado ainda poderia contar com muitas testemunhas, os defensores dos direitos humanos dos bandidos.

Se alguém ousa falar sobre pena de morte então, é um Deus nos acuda. O povo quer esta pena, pois tem pouca chance ou nenhuma diante da criminalidade que vive, mas a minoria, geralmente aqueles que se acham cultos e intelectuais, sempre vence, com os mesmos argumentos de que há risco de se cometer injustiça. Mas, o risco de deixar um bandido solto para cometer novos crimes não é maior? Seria justo soltar um bandido matador, após alguns anos de reclusão, sabendo que ele vai voltar ao crime e quantas vidas poderão ser perdidas de pessoas de bem, trabalhadoras? Não partilho do ato de tirar a vida de ninguém, mas se há a lei, ninguém tiraria a vida do bandido. Ele mesmo é seu carrasco, pois escolhe a morte quando pratica o crime punido com esta pena. Desta forma a pena seria auto-aplicada, como o suicídio, que não é proibido, e não há como se avaliar quantas injustiças estão por trás de um gesto desesperado desse.

Há ainda colocações, não menos importantes, que atribuem a violência ao grande desnível sócio-econômico existente, à miséria exacerbada, à falta de opções, ao desemprego, etc. Mas a pobreza, por si só não pode ser a causa de tanta crueldade e bestialidade, pois isso diz mais respeito a caráter, formação moral e ética, valores que de acordo com quaisquer estudos não são virtudes únicas das camadas sócio-econômicas mais altas. Até porque os grandes matadores de hoje, não matam por alimentos e sim para se esconderem, por sua covardia, ganância e falta de escrúpulos. A diferença é que, como os que são presos quase sempre são os pobres, pretos e prostitutas, tem-se a impressão falsa de que os mais afortunados são diferentes. Caráter não se compra, se adquire por uma boa educação que comece e continue em casa. A escola é fundamental para obtenção de conhecimentos e informações, mas sem uma família bem ajustada, fundamentada em valores éticos e de justiça, não teremos grandes homens, nem grandes mulheres. Ademais, se pobreza fosse a principal causa de violência o que dizer de tantas tribos e nações africanas, miseráveis, onde as pessoas não têm nem a esperança como companheira e onde a morte muitas vezes é ganho, pois abrevia o sofrimento?

A primeira dificuldade surge quanto à identificação de quem é responsável pela prevenção e educação. Depois as dificuldades continuam, sobre o que deve ser considerado como preventivo ou educativo? Se a ideologia dominante no País for de esquerda, a ênfase será nas medidas protecionistas e paternalistas, tipo auxílio isto, auxílio aquilo, cesta isto, cesta aquilo, salário isto, salário aquilo, levando pouco em conta o esforço, o trabalho e a vontade de cada um em modificar a situação. Se a ideologia dominante for neoliberal, a ênfase atual é a globalização e entregar tudo para o capital privado. Se for em dólar é melhor. Mesmo que não gere tantos empregos no Brasil estaremos contribuindo para criar e manter empregos no mundo.

Chega ser irônico pensar que, mesmo com idéias boas em qualquer ideologia, o corporativismo ideológico dificulta qualquer entendimento e estabelece como objetivo principal de luta a permanência no poder, para quem está nele, ou a busca desesperada pelo poder, para quem está fora dele. Pouco importa, de fato, os meios para se chegar ou ficar nele, o poder. De raspão usam-se, ambos, apelos sociais como se fosse em defesa do povo, mas na verdade é em defesa de slogans e jargões pessoais, partidários e políticos.

...esse texto até ficou parecendo coisa do Zé. Ele gosta de falar de cidadania...